"Manual de Pirotecnia - Fogos de Artifício"

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Na fabricação de fogos de artifícios a técnica é transmitida verbalmente .
Os trabalhadores possuem livros de composicoes químicas, essencialmente sempre as mesmas , muito mais para controle do consumo da matéria prima do que por razoes técnicas.
Considerando que um espetáculo pirotécnico tem uma concepção subjetiva a sua realização requer habilidade manual experimentada. Dai o motivos dos fogueteiros se especializarem, trabalhando com pequenos grupos de produtos que lhe são conhecidos e acessíveis. Com ligeiras alterações na composição e grandes diferenças no modo de fazer, obtém-se uma variedade incrível de efeitos.


Em qualquer lugar do mundo vamos encontrar um fogueteiro que aprendeu "olhando e fazendo ".
Restrito aos componentes que dispõe, seu compromisso é com o show. Eis uma das razoes para os fogos de artificio resultarem perigosos e instáveis . A falta de padronização, siquer regulamentações oficiais, deixam o campo aberto a iniciativa do artesão. Com raros limites qualquer resultado é valido.
Ha alguns livros que tratam da confeccao de fogos. Os mais antigos , copilados e reeditados em varios idiomas,sao pouco científicos, mas objetivos. Textosavulsos ou de órgão públicos mantém a mesma forma elementar. São sempre muito mais um receituário que um meio de produção . Não são direcionados para um fabricante , mas para um artesão. Razão pela qual o método tradicional é ter uma amostra do concorrente e copia-la. nesse trabalho de reconstrução de um produto de outro fabricante, apenas pela amostra, o novo artesão usa os seus recursos. E na maioria das vezes obtêm um efeito ligeiramente diferente.. Comercialmente valido também .
Diz a lenda que para Gengis-Kan muito mais difícil que conquistar a China , foi descobrir os segredos dos fabricantes chineses de "pólvora".
Na falta de outros meios os fogueteiros copiam uma peca que deu certo. Os norte-americanos apenas copiaram os foguetes V2.
Ainda que copiar da peca do concorrente as vezes seja um fracasso, a casos como os da bomba esférica , ou bomba japonesa , que é um exemplo bem sucedido.



Bombas

Chamamos de "bombas" as pecas que contem granulos que queimam no ar , arremessados verticalmente por uma carga de polvora de tiro.
As bombas tradicionais são um corpo (estojo) cilíndrico. Os tipos grandes parecem um garrafão. Um tubo canhão serve para lancar-las.
Dentro do estojo existem grânulos, como confeitos, baladas, colocados entre camadas de pólvora comun. São lançadas para o alto por um tubo com pólvora, verdadeiro canhão. Reforçando o estojo nas laterais ou nas extremidades, o efeito muda. E para cada efeito dá-se um nome peculiar:: chuva de prata, cabeleira, veu de noiva, etc. Nestas o efeito da explosao é assimétrico.
Alguns fabricantes orientais conseguiram obter efeitos simétricos. A mais conhecida é a bomba de efeito esférico. Na explosão ela inicia como uma bola pequena e vai abrindo , aumentando o diâmetro, mantendo o efeito esférico até desaparecer. Uma bola de fogo que aumenta de tamanho e muda de cor, ate sumir. É um lindo espetáculo qualquer que seja o ponto de vista do espectador. Todos assim o mesmo show, o que nao ocorre com as bombas assimétricas. Atualmente quase todos os show pirotécnicos são com bombas esféricas.
No passado , fabricantes que conseguiram uma peca original, descobriram o segredo desse efeito maravilhoso. A bomba era simplesmente uma bola de tênis ou de futebol. Uma esfera perfeita. Internamente os grânulos são colocados na periferia e a pólvora exatamente no centro. Simples e de efeito espetacular.
A construção tem detalhes que exigem mais cuidado que as bombas tradicionais.Primeiro a carcassa ou estojo tem de ter resistência mecânica igual em toda a área da esfera. Obtêm-se isso a partir de duas calotas esféricas de cartão, que são recapeadas com folhas de papel e cola , mudando o sentido das folhas , norte-sul, leste-oeste, intercaladamente
Forma-se uma bola que submetida a uma pressão interna se rompe por igual em pequenos pedaços. se ficar um área com menor resistência ela rasga no ato da explosão e os grânulos saem como um jato, nessa direção , causando o efeito das bombas tradicionais.
Feito o estojo, em duas partes, os grânulos ou baladas são colocados no sentido radial. Na periferia. os grânulos são tarugos ou baladas justapostas diretamente contra a parede interna da calota. O espaço central enche-se de pólvora granulada. As baladas tem de ser duras. A pólvora negra do tipo mais forte e rápida que nas bombas comuns. Para que o conteúdo na fique solto acrescenta a pólvora grânulos de PVC expandido, (isopor) ou serragem grossa.

A montagem é feita colocando-se as calotas sobre uma mesa com a boca para cima. Arruma-se as baladas em cada uma das calotas e e pólvora no meio . Para juntar as duas partes em forma a bola, usa-se uma lamina de papelão grande tampando uma calota. Vira-se então a calota tampada sobre a outra que esta aberta. Juntas uma sobre a outra retira-se a folha de papelão , puxando lateralmente. A bola fica montada. segue-se a colagem das folhas de fechamento .
A espoleta, (trem de fogo) é colocada em um dos pólos, no centro da calota , antes da montagem da bomba. Fica toda embutida , apenas com a boca para fora. No mais segue como o tipo tradicional, com estopim e carga de tiro.


Espectáculos



As bombas de espetaculos tem nomes que identificam subjetivamente o efeito. Dai existirem mil nomes para um mesmo tipo de bomba. Vejamos alguns: Cascata, Tremido, Bengala,Relampago, Tremulante, Chuva, Granulado, Estrelinhas, etc.
Comercialmente um espetaculo é contratado com um programa.
Este programa , tem minuto a minuto , as bombas que serao lancadas, a quantidade e o seu efeito.Explica como deve transcorrer o espetaculo. A sequencia , o tamanho das bombas e as cores sao muito importante.

Cada espetaculo segue um andamento proprio.De acordo com o tipo de evento( comicios, revellion, etc) ha um desenvolvimento proprio.
No geral a idéia é iniciar com luzes fracas e pequenas, com pouca fumaça, e vai aumentando ate o final com muitas luzes fortes. Os efeitos bonitos ficam pelo meio do espetáculo.

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Espetáculo Pirotécnico Marca#######
Seqüência de queima

Tempo ...................Produtos
0 - l ..........Tiros- Tiros Secos Chamada
2-3.............. Descarga 180
3-4 .............No Edifício: 10 Bouquet Cores
Cascata INICIO
Fogos de Chão
30 bombas cilíndricas 4
50 Estrelas
5 Orientais 6", 7", 8
4-5 50 Paraquedas Diversos
5-6 Pavão
20 Cilíndricas Diversas
20 Girândolas Aquarela
. .............
................
Encerramento: Esquerda Descarga l80 Tiros-50 Estrelas de Cores
Direto em Serie: 20 Descarga Girândolas -20cilidricas
Direita:l descarga 4",5",6"Oriental-30Cilindrica 5
2 descarga:20 Cilíndrica Cores-10 Orientais
Tiros-Relampago-Chuva Prata
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No final do espetáculo só o grandioso. Assustador. Impressionante.
Os tiros são usados para atrair a atenção, sempre 10-30 segundos antes dos efeitos luminoso.Na área de trabalho, isolada, os tubos com as bombas sao arrumados em fileiras pela ordem de queima. Pela ordem crescente de tempo. de andamento do show.

Ha sempre um grupo de bombas em um apartado para suplementar o andamento. Conforme nega uma bomba no grupo principal, o tecnico dispara uma do grupo suplementar para manter o andamento.
Um estopim mestre, com ramais, passa o fogo de um grupo de bombas a outro.Esse estopim é do tipo comum com um cobertura de papel bem folgada para o fogo correr rápido. Amarrações fazem o efeito de retardo.
Coberturas de papel protegem para evitar que na explosão da primeira bomba as fagulhas não ascendam a terceira ou quarta bomba.


Outros
Alem de bombas de espetáculos temos uma variedade de Ramalhetes , Pistolinhas, Repuchos Chineses, Chuveiros, Fontes, vulcões, etc.
Todos são feitos com os mesmos mistos, alterando a forma construtiva dentro do receptáculo.
As cascatas, muito comum, usadas no alto de edifícios, são feitas como as Chuvas com pós metálicos e um pouco de oxidante. Alumínio nas chuvas de prata. Carvão nas chuvas de ouro.


Estalos

Os estalos de salão, pequenas bombinhas do tamanho de um grão de feijão, são de montagem simples. Visualmente são saquinhos de papel ou estojinhos plásticos cheios de areia.
Aparentemente só areia. A analise química é muito difícil e não permite detectar o produto ativo facilmente.
Os estalos de salão funcionam por aperto, ou golpe. são inofensivos e muito populares atualmente. certa ocasião uma fabrica mandou ao laboratório um lote recusado . Os estalos não funcionavam mais após um mês de fabricação. Recém fabricados otimo.Submetidos a efeitos de frio e calor(ciclo térmico) perdiam o efeito. Não estalavam.
Ao fim dos teste verificou-se que a perecibilidade estava no catalisador, coisa simples, mas impossível de detectar por amostragem .
Para fabricar estalos , não basta copiar a amostra. É necessário saber o procedimento de fabrico e a formulação.
O produto ativo é uma espécie de fulminato de prata, alto explosivo, abandonado a muitos anos, justamente por ser intavel.Foi usado em espoletas militares, mas foi também responsável por acidentes graves. Quando na explode sozinho, falha totalmente.
Resumidamente o procedimento conhecido consiste em dissolver dez gramas as de prata em um litro de acido. Após a dissolução precipita-se um produto ativo, com trezentos mililitros de álcool puro. O pó branco precipitado é filtrado, lavado e seco. Uma grama de pó e então misturada coma a areia umeda. se a areia estiver molhada, a água arrasta o explosivo para o fundo do recipiente e no primeiro movimento da mistura, explode tudo na cara do operador.
É necessário trabalhar com uma mascara , tipo solda elétrica .
A areia usada deve ser bem lavada e convenientemente neutralizada para ter PH neutro. Mantida umeda a mistura é carregada em saquinhos de papel. Colocado para secar. a umidade sae através dos poros do papel.
O catalisador usado na fabricação do explosivo é o cobre. São os traços de cobre que garantem a estabilidade e durabilidade do explosivo. Alias, as moedas de prata antigas eram uma boa matéria prima, dizem os artesoes, porque tinham exatamente o cobre como impureza.
Salvo os "tracks", proibidos em muitos lugares , feitos a base de fósforo branco, os estalos de salão são uma das raras aplicações de alto explosivo em fogos de artificio.
Uma bomba de palito, bombinha comum , feita com tiocianato de chumbo, clorato e um adesivo de nitro celulose, por processo mecanizado em maquinas de palitos de fósforo, foi um fracasso comercial.


VELAS - Arame
l6000 gr. Nitrato de bário + 8100 gr. Limalha de ferro fundido +1400 gr. Alumínio 32 e l75 gr. de enxofre. Como adesivo l80 gr. de goma laca para cada litro de álcool.
BENGALINHA
20000 gr. Clorato de Potássio + 3500 gr. Alumínio 48 + 1500 gr. Alumio + 500 gr. Enxofre. O adesivo é, 3000 gr. de Polvilho( cola feita de fécula de mandioca, tipo dextrina, tipoamido de milho)



Vela de Luz Colorida

Outra aventura comercial foi a vela de luz colorida. Não deve haver fogueteiro que já não tenha pensado muito em uma vela comum de chama colorida .
Feita a base de um produto conhecido como urotropina, mistura-se nitratos de estrôncio ou bário e queima-se como uma vela. Todavia com o tempo a formação de hexogenio, um explosivo violento, ocorreria espontaneamente, pela nitração da urotropina em núcleos da própria vela.

Ainda que teoricamente a vela de luz colorida pareça simples,na pratica a dificuldade é imensa .
Simplificadamente o que ocorre em uma vela é que o combustível sobe ao pavio e evaporando-se inflama. O pavio serve para drenar, facilitando a valorização gradual e controlada do produto.
Para que a chama assuma uma coloração é necessário que um produto químico esteja presente na chama ( digamos estrôncio) . Para ser visível necessita um efeito de contraste. Se a chama é de óleo, fica amarela , e "tampa"o vermelho do estrôncio. Não se "vê". Ademais os óleos e similares não fornecem calor para vaporizar o estrôncio. Assim o caminho é usar uma chama incolor. Tipo chama de álcool. Os álcoois e aldeídos fornam chama transparente. Mínimos traços de estrôncio avermelham a chama.
Depois de construir a vela com produto que queime com chama transparente colocamos o estrôncio micro pulverizado, impregnamos o pavio e acrescentamos algum oxidante para ajudar.
O aldeído metálico, o metaldeyde, e a metylamine são exemplos de combustíveis que funcionam. Os sais minerais como o estrôncio dão a coloração.
Na Europa era fabricada uma vela feita de metaldeyde(4.5) carbonato de litigo(0,2) acido bórico(0.005) magnésio(0.3) cobre metálico(0.1) e limalha de ferro(0.05) que produzia uma feito muito bonito e era chamada de luz sobrenatural. Eram pastilhas de 2 a 5 gramas. O metaldeyde com carbonato de estrôncio e um oxidante faz uma vela de luz vermelha muito bonita . Não se prensa nem umedece.
A vantagem dessa velas é que não fazem fumaça visível, podendo ser usadas em lugares internos , como salões e teatros. Luzes sem fumaça. Convém sempre fabricação recente. O álcool solidificado e a urotropina substituem o enxofre como combustível.
Sempre com oxidantes fracos.