Problemas de trânsito
A congestão na Internet é cada vez mais uma realidade e uma ameaça ao desenvolvimento
da própria rede. Cada vez mais o cenário em que este rede global se encontra se assemelha ao
de uma "Tragédia dos Comuns". A "Tragédia dos Comuns" é uma parábola que vem de 1833.
Os "Comuns" são uma terra partilhada por vários pastores em que cada um deles tem o direito
de pôr os seus animais a pastar como entender. Eventualmente, a capacidade da terra suportar
os consecutivos abusos a que é sujeita, é ultrapassada, devido ao aumento desregrado do
tamanho dos rebanhos sem consideração pelos resultados a longo prazo. Neste cenário, os
recursos comuns continuarão a ser usados a níveis insustentáveis enquanto as estruturas que
podem tomar decisões, as continuarem a tomar baseadas exclusivamente no seu próprio proveito.
A solução económica instintiva para uma "Tragédia dos Comuns" é a atribuição de direitos de
propriedade, no entanto, isso iria subverter a própria filosofia da Internet.
A Internet não tem uma entidade gestora, mas é uma rede que existe pelo facto de centenas de
milhares de empresas operadoras de redes de computadores terem decidido usar o mesmo
protocolo de comunicação para poderem partilhar e aceder a informação remotamente.
Evitar esta tragédia depende da alocação eficiente dos recursos da rede.
Actualmente os serviços na Internet incluem email, FTP, Telnet, IRC, Gopher, WWW, e
alguns serviços de real-time audio e video.
O aparecimento da World Wide Web tornou o acesso à informação extremamente simples e
também muito intensivo.
A generalização da Web tornou a Internet num repositório auto-suficiente e dinâmico de
informação: a maneira fácil de estar a par do que se passa, o local de referência por excelência,
o sítio para procurar respostas a todo o tipo de questões e para disseminar todo o tipo de notícia,
ou rumor.
Estes factores aliados à cada vez maior familiaridade do público em geral com estes serviços
estão a criar problemas graves de congestão na Internet.
É óbvio neste momento que a WWW tornou a Internet numa poderosa ferramenta de marketing;
os documentos com voz, vídeo, imagens e texto são usados para publicitar e informar. É também
por isso que alguns lhe chama a World Wide Wait. A simples visualização de uma página Web é
responsável pela maioria do tráfego da rede hoje em dia, visto que as páginas existentes são
cada vez mais ricas em imagens, sons, Java. Tudo isto contribui para um maior fluxo de
informação e um subsequente aumento da congestão nas linhas em todo o lado. Mas não são só
as imagens, o som e o Java que causam demoras, o próprio protocolo e a sua configuração
causam imensos atrasos na comunicação.
A escassez de largura de banda para suportar este tipo de serviços, levou ao aparecimento de
uma imensa panóplia de ferramentas de software para ajudar as pessoas a aliviar os problemas
de tráfego. Exemplo disso são as aplicações que periodicamente fazem o download de uma
colecção de páginas Web e as mantém prontas e actualizadas para o utilizador. Mesmo para os
providers que desligam sessões inactivas existe software que simula actividade. Muitas redes
académicas sofrem desta sobrecarga virtual. Como acontece frequentemente neste tipo de
situações, tentar evitar congestão leva a uma maior congestão.
Existem diversas componentes associadas às demoras na Web: a complexidade das
páginas, a distância que os pacotes têm de percorrer, o número de mudanças de router, o poder
do servidor do site, as configurações e as velocidades de acesso - como se pode ver na figura 1.
Atacar uma parte do problema não vai gerar resultados óptimos.
Figura 1 - Componentes das demoras na WWW
Daqui podemos verificar que a substituição de um modem de 28.8kbps ou 33.6kbps por um
modem de cabo de 10Mbps, não vai melhorar a performance como seria de esperar.
De igual modo, aumentar a largura de banda a um nível global é o equivalente a construir novas
faixas numa auto-estrada: o número de automóveis aumenta a um nível suficiente para entupir as
novas faixas. Novas tecnologias e redes mais rápidas iriam, mais uma vez, aumentar a utilização
da Internet, que rapidamente iria atingir novamente os limites de capacidade. A performance da
rede iria ser imprevisível, já que os recursos continuariam a ser mal geridos e distríbuidos. O
aumento da largura de banda é uma aproximação que pode muito bem revelar-se mais prejudicial
do que benéfica.
A questão é mesmo a gestão dos recursos fornecidos pela tecnologia.
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