Sandra Cristina Moura Vaz   

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Comunicação Verbal:

       O Sistema Braille       

 

Por

  Sandra Cristina Moura Vaz

Departamento de Engenharia Informática
Universidade de Coimbra
3030 Coimbra, Portugal
svaz@student.dei.uc.pt
 


Resumo –
Apresentam-se, de forma clara e concisa o sistema braille, identificando e descrevendo o seu autor, explicando em que consiste este tipo de sistema, como é usada e as novas tecnologias que se adequam às necessidades dos deficientes visuais. A abordagem poderá ser um auxiliar para todos os que pretendam conhecer um pouco melhor este sistema que se destina à escrita e leitura das pessoas cegas, bem como alguns dos meios que os cegos dispõem para aceder à informação, permitindo uma melhor inserção no mercado de trabalho.

Palavras chave A escrita Braille, braille, sistema braille

   

1. Introdução

Muitas vezes, no nosso quotidiano, não nos apercebemos que nem todas as pessoas têm a mesma facilidade em ler e escrever. Infelizmente no mundo actual ainda existem muitos analfabetos. Mas, não são apenas estas pessoas que não conseguem ler e escrever normalmente. Muitas vezes cruzam no nosso caminho pessoas para as quais a visão é um sentido inexistente. Quando isso acontece, muitos de nós, ajudam-nas a atravessar a rua, mas, por vezes não nos damos conta de como é difícil a vida para essas pessoas. A leitura e a escrita a que estamos habituados, para elas é impossível. Foi a pensar nisso que foi criado o sistema braille, com o objectivo de permitir aos cegos a leitura e escrita. Foi necessário um cego para imaginar o sistema braille, ou seja um alfabeto táctil.

Este processo de leitura e escrita através de pontos em relevo é usado, actualmente, em todo o mundo. Trata-se de um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se adapta a todas as necessidades dos utilizadores, quer nas línguas e em toda a espécie de grafias, quer na música, matemática, física, etc.

Com esta invenção foram abertas as portas da cultura aos cegos, abrindo-lhes novos horizontes de ordem social, moral e espiritual.

Além disso, com a evolução de novas tecnologias como é o caso do sintetizador de voz, da linha braille, entre outras, tornou-se mais fácil para os cegos acompanhar a evolução tecnológica e como tal o mercado de trabalho tornou-se-lhes mais acessível.

O presente texto procura descrever de uma forma clara e  simples  o sistema Braille e as novas tecnologias que permitem aos deficientes visuais manterem-se ao corrente da informação disponível, ficando ao mesmo nível das outras pessoas. A abordagem seguida centra-se na descrição do sistema braille. Começando por identificar o autor, seguidamente é dado a conhecer um pouco da sua biografia, passando de seguida a explicar o funcionamento do sistema , explicando a importância da evolução tecnológica.  

 2. Quem inventou a escrita Braille?  

Esta escrita foi inventada por um jovem francês,  com pouco mais de 15 anos, de nome Louis Braille, em 1809.

Para tal apoiou-se num sistema de escrita inventado pelo capitão Charles Barbier de La Serre, que cegou na Palestina. Este sistema, assim como o Braille, também é baseado em pontos de relevo. Este capitão aperfeiçoou um código através de pontos, podendo-se ler com os dedos. Numa determinada fase da sua evolução, aparecia constituída por 36 sinais, distribuídos por 6 linhas com 6 sinais cada uma. Bastava indicar, por dois algarismos, a linha e a ordem que o sinal nela ocupava para o identificar. Numa outra fase designou as coordenadas por um determinado número de pontos, que indicavam a linha e a coluna a que o símbolo pertencia, que eram colocados em duas filas verticais e paralelas. Num novo aperfeiçoamento introduziu pontos de relevo

Este código era usado para proteger os segredos das mensagens militares e diplomáticas. A este código chamou “escrita nocturna” ou “sonografia”, uma vez que era possível decifrar os códigos no escuro, contando os pontos com os dedos. Desta forma o tacto tornou-se o elemento essencial para a interpretação dos símbolos formados por pontos em relevo. Foi nesta altura que decidiu colocar esta sonografia ao serviço dos cegos. Barbier evidenciou que a leitura por meio de pontos é mais adequada para o sentido do tacto do que as letras em relevo, que se costumava usar, embora o sistema não correspondesse ao ideal, pois, entre outros aspectos, os caracteres tinham grandes dimensões tornando-se difíceis  de conhecer num primeiro contacto táctil.

Braille apercebeu-se que sinais com mais de três pontos em cada fila ultrapassava a possibilidade de uma única percepção táctil e atribuiu a cada símbolo valor ortográfico e não fonético, melhorando assim o sistema criado por Barbier.

2. Mas afinal quem era Louis Braille?

  

                                                                      
                                                                             Louis Braille

 Louis Braille nasceu numa pequena aldeia francesa de Coupvray, no distrito de Seine-et-Marne, a cerca de 45 km de Paris, no dia 4 de janeiro de 1809. Sofreu um acidente aos três anos de idade, quando brincava na oficina do pai, ficando totalmente cego. No entanto, este jovem nunca desistiu de aprender. Os pais tinham por ele um amor enorme, fazendo com que ele se acostumasse rapidamente à sua nova situação. Na escola onde ia, com a ajuda de uma bengala, demonstrava uma inteligência superior aos colegas, uma vez que decorava e repetia as lições que ouvia, com muita facilidade.  Em 15 de fevereiro de 1819 conseguiu uma bolsa de estudo, ingressando assim no Instituto para Jovens Cegos, em Paris, fundado por Valentin Haüy. Foi Haüy (1745-1822) que fundou, em Paris, em 1784, a primeira escola destinada à educação dos cegos e à sua preparação profissional.

Nesse instituto ensinava-se a ler através do relevo dado às letras, uma vez que a  impressão dos textos era em papel muito forte, embora não fosse um sistema perfeito. Com este sistema era possível a leitura, mas a escrita era impossível. Foi nesta altura que começou a interessar-se pelo sistema criado pelo capitão Charles Barbier de La Serre.  Foi em 1829 que publicou o seu primeiro manual, com o novo código sistematizado, intitulado “Processo para escrever as palavras, a música e o canto-chão, por meio de pontos, para uso dos cegos e dispostos para eles”. Tinha conseguido criar um sistema de pontos em relevo que representava letras. O seu instrumento de trabalho era uma ponta de uma sovela, o mesmo instrumento que lhe havia tirado a visão. Nesta primeira versão do alfabeto Braille o primeiro sistema já estava praticamente definido. O sistema correspondia a seis pontos em duas filas verticais, de três pontos cada uma, que correspondem a um total de 63 sinais. Na segunda versão que publicou, em 1837, algumas combinações com traços desapareceram. Esta versão permaneceu até hoje praticamente inalterada.                    

Louis Braille morreu em 6 de janeiro de 1852. No museu francês, com o seu nome, pode-se descobrir a sua vida e a sua obra, onde também podemos encontrar alguns dos primeiros textos, que escreveu, com o novo alfabeto.       

O seu trabalho só foi reconhecido oficialmente em França dois anos após a sua morte, após a sua amiga Teresa, também ela cega, se ter exibido na Exposição Internacional de Paris. Ela demonstrou, ao mundo, através de um piano que um cego podia aprender a ler e a escrever, graças ao sistema que havia sido criado por outro cego (Louis Braille).

 3. Qual é o funcionamento do sistema braille?  

Ao conversar com um cego, acerca do sistema Braille, constatamos que este utiliza frequentemente duas expressões: ler a negro e ler a branco.  É com esta simplicidade que se destingue a escrita a que estamos habituados, a escrita a tinta, da escrita Braille, que é composta por um sistema de pontos salientes marcados que quase sempre são brancos.

Actualmente, em qualquer programa de reabilitação aprende-se “A leitura com os dedos”, ou seja aprende-se o Braille.

O sistema braille consiste num processo de leitura e escrita através de pontos em relevo, ou seja saliências no papel. Esses pontos têm um reduzido espaço entre eles, para que cada caracter ocupe pouco espaço, mas de forma a serem percebidos facilmente. Pela sua forma adaptam-se exactamente à polpa do dedo.

Este sistema é constituído por 63 sinais, obtidos pela combinação metódica de seis pontos, os quais estão dispostos em duas filas verticais, contendo três pontos cada uma. É idêntico a uma sena de dominó, ao alto, como se pode ver na figura seguinte.

Célula braille
Célula Braille

 

Este conjunto de pontos constitui um caracter. Apenas com estes seis pontos é possível representar todo o alfabeto (e vários tipos de alfabeto), incluindo as letras acentuadas, os números e a pontuação.

Também representa caracteres especiais, como os que são utilizados na matemática, na música,... Para tal precede-se o caracter especificado por outro que lhe permite atribuir o símbolo que se deseja.

Ou seja representa tudo o que a escrita comum consegue representar, e que é usada no dia a dia.

O “E” com acento agudo, na escrita Braille, é formado pelos seis pontos, por sua vez o “A” é formado apenas por um ponto, pelo primeiro ponto do topo esquerdo do grupo de seis pontos.

Os números são representados pelas letras de “A” a “J”, do alfabeto. Ou seja a letra “A” representa o número “1” e a letra “J” o número “0”. Para se destinguir as letras dos números coloca-se um sinal antes da letra. No caso do número um coloca-se o sinal de cardinal “#” antes da letra “A”.

A figura seguinte mostra o alfabeto em Braille. É apresentado as diversas letras e símbolos e por baixo destes, o seu correspondente em Braille.    

Figura com os símbolos e letras a negro e o correspondente em braille

 

Na leitura qualquer letra ou sinal braille é apreendido simultaneamente em todas as suas partes, sem o problema de o dedo ter de ziguezaguear para cima e para baixo. Quando observamos um leitor experiente, apercebemo-nos que o único movimento que executa é da esquerda para a direita. Não é somente a mão direita que percorre as linhas, a mão esquerda também toma parte activa na interpretação dos sinais. Em geral a mão esquerda avança até aproximadamente metade da linha, permitindo assim um aumento da velocidade na leitura.

Como escrever e ler em Braille.  

Para se escrever em braille utiliza-se pautas e junções. Também se utilizam máquinas dactilográficas especiais. Na figura seguinte estão representados esses objectos:

 

Pauta

Pauta

 

Punção

 

Punção

Máquina de dactilografia braille

 

Máquina de dactilografia braille

 

Também é possível escrever através de impressoras braille que se encontram ligadas a computadores que contêm software apropriado, a partir da digitação do texto ou do seu reconhecimento óptico.

BrailleNote

BrailleNote

impressora braille

Impressora braille

 

A leitura é feita em folhas de papel escritas à mão, ou dactilografadas ou impressas, e em linhas braille incorporadas em terminais de computador.

4.Importância da escrita braille para os cegos  

Foi no século XVIII que se iniciou, de forma sistemática, o ensino dos cegos.

A escrita Braille é, há mais de 150 anos, o meio usado pelos cegos para a leitura e a escrita. Nos anos sessenta e setenta as cassetes tornaram-se num meio fácil e económico para a produção de informação e, nesse altura, houve uma tendência para o abandono do Braille. Mas, nas décadas seguintes, com o desenvolvimento das novas tecnologias, da electrónica e da informática, o Braille sofreu um incremento significativo, continuando a ser a melhor forma de ter contacto com a escrita. Apareceram computadores, impressoras e linhas Braille, assim como programas de transição da grafia normal para a grafia Braille.

Uma vez que dispõem de um processo fácil de leitura, o gosto pela leitura aumentou para os cegos. Desta forma o conhecimento intelectual em todas as suas formas (filosofia, psicologia, teologia, matemáticas, história, literatura, direito,...) tornou-se-lhes mais acessível. Assim como a leitura visual, também a leitura braille permite adquirir conhecimento e assimilar tudo aquilo que a leitura nos consegue fornecer.

Por isso, nas escolas, deve-se passar a habilitar os cegos a ler e a escrever como os restantes alunos são habilitados a ler e a escrever, pois de contrário pode-se comprometer a sua futura vida tanto na vida profissional como nas actividades de lazer.

Os benefícios deste sistema aumentaram à medida que as aplicações evoluíram.
 

5. A importância da evolução tecnológica

O mundo em que vivemos está dependente dos avanços da técnica, a informação corre rapidamente. Todos os sectores da nossa sociedade têm necessidade de aceder a toda a informação quase  que instantaneamente. Para poderem estar ao alcance do mercado de trabalho e obterem melhores condições, os cegos têm que conseguir acompanhar este rápido desenvolvimento da sociedade. Para poderem usufruir das vantagens dadas pela tecnologia, é necessário dar uma formação adequada aos deficientes visuais, para que tenham um lugar na sociedade e possam participar nela de uma forma integrada e produtiva, e competir no mercado de trabalho o mais apetrechados possível. Desta forma é necessário técnicos especializados para darem essa formação.

Com o passar dos anos, desenvolveram-se novas técnicas de grande utilidade para os cegos. Para além das já referidas podemos salientar os gravadores, estes primeiro eram de bobinas, depois de cartuchos e cassetes, chegando por fim aos sistemas digitais (Dat, Minidisc e MP3). O surgimento do Optacon também foi de extrema importância, este permite por em relevo letras que estão escritas a negro, por intermédio de uma pequena câmara que o utilizador passa por cima do texto. Depois surgiu o Delta, que ao contrário do anterior apresenta os caracteres numa linha braille.

Com o desenvolvimento dos computadores pessoais, apareceram uma infinidade de equipamentos que permitem dar aos cegos horizontes julgados impossíveis, dando-lhes uma grande autonomia. São exemplos desses equipamentos periféricos tais como o sintetizador de voz, a linha braille, as impressoras braille e os scanners. Estes equipamentos são acompanhados de “software” específico como é o caso dos OCR’s (reconhecimento óptico de caracteres). Com estas ajudas podem ser explorados diversos campos, tanto no estudo como na vida profissional. Desta forma torna-se mais fácil para os deficientes visuais integrarem-se na vida activa.

António Silva e Daniel Serra
 

 

 

 

 

 


Nesta imagem podemos ver duas pessoas deficientes 
visuais  fazendo uso das novas tecnologias
 

3. Conclusões

Pretendeu-se que este trabalho proporcionasse uma familiarização com a comunicação braille, ainda que de forma muito sintética, mas demonstrando os pontos mais importantes. Para realizar este objectivo  começou-se por descrever a sua, explicando o seu funcionamento, terminando com uma breve explicação das novas tecnologias que permitiram ao deficientes visuais terem uma melhor qualidade de vida. Pensa-se que o resultado obtido satisfaz os requisitos de objectividade que pretendia atingir. Pensa-se também que constituirá um bom auxiliar para o leitor que pretenda conhecer o sistema Braille. No entanto, é de salientar, que para o leitor que pretenda aprofundar os seus conhecimentos nesta matéria terá um longo caminho a percorrer. É através da experiência e da cultura que se chega um pouco mais longe, mas nunca conseguindo atingir o limite.

Agradecimentos

O autor agradece aos seus amigos, que prontamente se disponibilizaram a ler o artigo e dar as suas opiniões e criticas.

Referências

Artigo em página web:
         http://portal.utad.pt/mecbraille/braille.html
Artigo em página web:
         http://www.institutodecegos.org.br/alfabeto.htm

Artigo em web:

             
http://www.padrechico.org.br/html/leitura_escrita_braille.htm


 
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