Artigo
sobre a Argumentação
O artigo seguinte
foi completamente baseado na obra A Rulebook for Arguments de Anthony
Weston. Para fazer download, escolha entre a versão doc
ou a versão zip.
A Ciência
de Argumentar
por
José
Luís da Silva Reis
Departamento
de Engenharia Informática
Universidade
de Coimbra
3030
Coimbra, Portugal
jreis@student.dei.uc.pt
Resumo - Sugerem-se regras essenciais para argumentos curtos e descrevem-se
os passos a ter no desenho de um ensaio argumentativo.
Palavras chave - Ensaio argumentativo, argumentação,
argumentar.
1.
Introdução
Em
praticamente todos os domínios profissionais e no próprio
quotidiano, existe uma necessidade de procurar o mais correcto, o mais
aceitável e o mais verdadeiro. A Rulebook for Arguments, de Anthony
Weston [1] pode ser uma referência inicial. Seguidamente,
apresentam-se algumas bases da argumentação, abordam-se alguns
dos argumentos curtos mais comuns e introduz-se-se brevemente o modelo
de construção de um ensaio argumentativo.
2.
Regras para sustentar opiniões
2.1
Regras básicas
2.1.1 Distinguir premissas de conclusões
Para
se provar alguma coisa, é vital conseguir isolá-la e diferenciá-la
de tudo o resto para a tornar clara para os nossos interlocutores. Ao que
se conhece e se pode assumir como verdadeiro dá-se o nome de conjunto
das premissas e elas são o suporte que podem tornar verdadeira a
conclusão.
2.1.2 Organizar a sequência das ideias
Independentemente
da posição relativa entre as premissas e a conclusão
cada ideia exposta deve levar, o mais naturalmente possível, à
seguinte.
2.1.3 Argumentar apartir do que é verdadeiro
A
veracidade da conclusão dependerá, em muito, da objectividade
e da aceitação geral daquilo que apresentar para a sustentar.
O argumento é tão mais facilmente desmontável quanto
mais fracas forem as premissas apresentadas.
2.1.4 Usar uma linguagem específica, precisa e concreta
Qualifique
o menos possível e quantifique o mais que se poder. Evite o vago,
o geral, o abstracto.
2.1.5 Esclarecer vs manipular
O
uso das emoções só convence os apoiantes e afasta
ainda mais os opositores. Apele à razão, e não ao
coração, evitando conceitos que possam induzir ideias secundárias
em relação às que quer apresentar.
2.1.6 Usar termos consistentes
Cada
ideia deve ser representada por um conjunto bem definido de termos, de
modo a que as ideias fiquem igualmente bem definidas. Diferentes referências
a um mesmo conceito devem-se afastar o menos possível.
2.1.7 Clarificar o sentido de cada termo
Defina
bem o domínio dos seus termos para evitar inconsistência nas
suas representações. Cada termo deve corresponder a um único
significado de modo a evitar ambiguidades.
2.2
Argumentar com base em exemplos
Os
argumentos que se baseiam em exemplos tentam generalizar verdades que se
verificam num determinado conjunto de exemplos
2.2.1 Representatividade dos exemplos
Quanto
maior for a amostra, em que se baseiam as premissas, mais próxima
da realidade estará a conclusão. Mesmo assim, não
basta que o exemplos sejam muitos: é também necessário
que eles abranjam, o melhor possível, toda a gama de exemplos.
2.2.2 A informação de fundo é essencial
Mais
importante do que os dados relativos (frequências ou percentagens),
muitas vezes enganadores, são os dados absolutos, que relatam mais
fielmente o caso particular de uma realidade, ou então os dados
com os quais se está a estabelecer uma relação.
2.2.3 Contra-exemplos
O
conhecimento de contra-exemplos permite preparar melhor a defesa de um
argumento: tente observar se os contra-exemplos não estão
realmente em conformidade com a generalização.
2.3
Argumentar com recurso a analogias
Neste
caso, pretende-se concluir sobre determinada situaçao generalizando
apartir de um exemplo.
2.3.1 Compatibilidade entre exemplo e o argumento
Entre
o exemplo e o argumento tem de existir algo de semelhante e proporcionalmente
comparável.
2.4
Argumentar recorrendo a autoridades
Nem
sempre é possível argumentar sem recorrer a conclusões
de outrem. Por outro lado, o recurso a argumentos de autoridade também
evita a re-invenção da roda.
2.4.1 Citar as fontes
Em
casos em que os argumentos de autoridade possam levantar algumas reservas,
devem ser citadas as suas origens para validar as premissas e permitir
a verificação do que é afirmado.
2.4.2 Qualificação as fontes
Uma
fonte estará qualificada para numa determinada área se possuir
informação e bases correspondentes. As opiniões de
determinada autoridade podem não ter que ser reconhecidas se não
se enquadrarem da sua área.
2.4.3 Imparcialidade das fontes
Deve-se
evitar o apoio de argumentos em opiniões de fontes com eventuais
interesses sobre o assunto em que opinam.
2.4.4 Comparar as fontes
De
nada servirá uma fonte, por mais credível que seja, se exitir
uma outra igualmente credível mas com opiniões divergentes.
A melhor fonte será aquela cujas opiniões sejam confirmadas
pelas organizações independentes mais ligadas ao assunto.
2.4.5 Ataques pessoais não desvalorizam a fonte
As
fontes podem ser acusadas de falta de informação, parcialidade
ou falta de consenso. Outras acusações só desvalorizam
o(s) seu(s) autor(es).
2.5
Argumentar sobre causas
Sempre
que se correlacionam dois factos, de modo a existir entre eles uma relação
causa-efeito, está-se a argumentar sobre causas.
2.5.1 Explicar como a causa conduz ao efeito
Não
basta mencionar que a causa produz determinado efeito: é também
necessário fornecer um meio possível que leve a causa a provocar
o efeito.
2.5.2 Mostrar que a causa é a mais plausível
Normalmente
um efeito pode ter várias causas possíveis. Por isso, a causa,
além de ser justificada, deve ser defendida a sua maior probabilidade
perante todas as outras.
2.5.3 Correlacionar causa e efeito
Deve-se
eliminar a probabilidade de poder existir coincidência na relação
entre causa e efeito.
2.5.4 Falsas correlações
Factos
que parecem estar correlacionados podem não ter uma relação
de causa-efeito mas, por outro lado, podem ser dois efeitos de uma mesma
causa.
2.5.5 Correlações bi-direccionais
Se
for tão aceitável que o efeito conduza à causa como
a causa coduz ao efeito, nenhuma das direcções da causalidade
pode ser assumida isoladamente.
2.6
Argumentos dedutivos
Os
exemplos são sempre válidos até surgirem novos exemplos.
Mesmo as fontes imparciais e bem informadas podem estar erradas. Estes
graus de incerteza desaparecem quando a verdade das premissas é
suficiente para garantir que também a conclusão é
verdadeira - formas dedutivas.
2.6.1 Modus ponens
Estes
argumentos têm a forma "se facto A então facto B; põem-se
A obtém-se B". Esta forma ("o modo de por"), traduz uma implicação
entre a verdade da permissa e a verdade da conclusão.
2.6.2 Modus tollens
A
forma destes argumentos é "se facto A então facto B; tira-se
B perde-se A". Esta
forma
("o modo de tirar"), traduz um implicação entre a não
verdade da conclusão e a
não
verdade da premissa.
2.6.3 Silogismo hipotético
Estes
argumentos obtêm-se quando se encadeiam vários argumentos
com a forma de "modus ponens", em que a conclusão de um é
a premissa do próximo. Assim a sua forma é "se facto A então
facto B, se facto B facto C, se facto C então facto D; coloque-se
A e obtém-se D".
2.6.4 Silogismo disjuntivo
Estes
argumentos assumem a forma "pelo menos um dos facto A ou B é verdardeiro;
A não é verdadeiro então B têm de ser".
2.6.5 Dilema
Um
dilema tem a forma "pelo menos um dos facto A ou B é verdardeiro,
se facto A então facto C, se facto B então facto D; então
C ou D".
2.6.6 Redução ao absurdo (reductio ad absurdum)
Esta
versão do modus tollens tem a forma "será o facto A verdadeiro?,
assuma-se que o facto A não é verdadeiro, obtenha-se que
o facto B é verdadeiro, demonstre-se que o facto B é falso;
então A".
2.7
Explorar o tema do ensaio argumentaivo
Quando
é preciso interligar vários argumentos curtos ou quando um
argumento curto necessitar de uma defesa mais elaborada, o ensaio argumentativo
pode ser a resposta.
2.7.1 Ter em conta os argumentos de todas as posições
Conhecer
bem o argumentos mais fortes, de cada uma das posições existentes
sobre o assunto, é fundamental para os questionar e obter uma opinião
bem formada que possa ser defendida com argumentos sólidos e que
tenha poucos pontos fracos.
2.7.2 Avaliar e defender cada premissa
Se
as premissas poderem ser postas em causa não se devem ignorar os
argumentos contra ou a favor das mesmas.
2.7.3 Recapitular argumentos à medida que surgem
Uma
opinião depende sempre da informação que se dispõem
no momento. Argumentos recentes podem entrar em colisão ou revitalizar
outros. A própria opinião pode sofrer uma rotação
de 180º devido à descoberta de novas conclusões ou à
falta delas. O importante é conseguir definir uma posição
decidida e coerente e que possa ser suportada.
2.8
As partes principais de um ensaio argumentativo
Depois
de se chegar a uma posição inconfundível, chega a
altura de organizar o que se descobriu, para poder apresentar, eficazmente,
tudo aquilo que necessita de ser abordado.
2.8.1 Explicar a questão
Deve-se
começar por esclarecer e justificar o assunto do qual se vai mostrar
opinião.
Para
isso deve-se ter em conta o receptor que pode não estar consciente
ou nem sequer informado sobre o tema.
2.8.2 Disparar a opinião
Em
seguida formula-se, de uma maneira clara e directa, uma proposta ou conclusão
a que se tenha chegado. Se o objectivo não for o se assumir uma
posição mas o de confrontar outras então é
isso mesmo que se deve afirmar, também de uma forma inconfundível.
2.8.3 Esgotar os argumentos
É
preferível trabalhar e desenvolver a fundo um ou dois argumentos,
dos mais importantes, do que apresentar superficialmente todos os argumentos
correndo-se o risco de entrarem em conflito ou de ficarem frágeis.
Esta é a altura de mostrar que a proposta resolve o problema, como
é que se chegou à conclusão ou expor o que se vai
confrontar seguido da explicação do resultado da avalição.
2.8.4 Considerar pontos fracos
Antecipar
possíveis objecções, argumentando que o compromisso
entre pós e contras é favorável à ideia exposta.
2.8.5 Considerar alternativas
Não
basta expor muito bem a proposta: é também necessário
demonstrar que ela é a melhor entre as possíveis.
2.9
Escrever um ensaio argumentativo
Só
depois de explorado e esboçado se procede à escrita do ensaio
argumentativo.
2.9.1 Seguir o esboço
Não
se deve alterar a ordem dos 5 pontos atrás descritos. Se houver
necessidade de alterar a ordem de alguns dos pontos para que o conjunto
forme um todo harmonioso então deve-se rever o esboço.
2.9.2 Introdução breve
A
introdução deve ser bastante curta e focar aspectos relevantes
dando um aspecto do todo.
2.9.3 Apresentar argumento a argumento
Cada
argumento pode ter: um parágrafo onde é apresentado e um
parágrafo por cada premissa, onde é explicado e defendido.
2.9.4 Clarificar, clalificar, clarificar
Por
muito clara que possa parecer a relação entre dois factos,
por muito claro que possa parecer um conceito não se deve deixar
de o expor e clarificar, principalmente se for fundamental para o objectivo
a alcançar.
2.9.5 Sustentar as objecções com contra-argumentos
Desenvolver
e desmantelar argumentos contrários, não tão profundamente
como os a favor, não só defende a proposta como também
a reforça e justifica.
2.9.6 Afirmar apenas o que se mostrou
Sumarizar
os pós e os contras do tema em questão sem exageros e humildemente
afirmar a convicção na proposta defendida.
3.
Conclusões
Estes
tópicos permitem ter uma iniciação breve necessária
a qualquer tarefa em que seja preciso suportar afirmações
de uma forma objectiva como a investigação ou a tomada de
opinião. Como tal, não dispensa a consulta da referência
nem tão pouco de um estudo mais aprofundado da literatura existente.
Agradecimentos
O
autor agradece aos responsáveis pela criação e manutenção
da cadeira de Comunicação Técnica e Profissional /
Sociedade Profissão e Ética pela oportunidade de realizar
este trabalho que, com certeza, irá contribuir imenso para
o seu futuro profissional. Este trabalho foi realizado ao abrigo do objectivo,
que o autor tinha, de realizar a cadeira anterior com aproveitamento aceitável.
Referências
1.
A Arte de Argumentar, 2ª edição, Anthony Weston.
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