Miguel Anjo
30-Agosto-2000


E se fosse uma estátua...


E se fosse uma estátua. E se fosse uma estátua? Uma estátua que ouvisse ou visse apenas o que se passava à volta. No meio do Chiado qual Fernando Pessoa. Dia noite dia noite dia... Barulho obras confusão olhares; silêncio grito escuridão (a escuridão ouve-se?). Ao fim de algum tempo começaria a saber as horas do dia pelo som que ouvia, ao fim de algum tempo mais reconhecia as pessoas que quotidianamente passavam junto a mim. Se eu fosse uma estátua sentada, virada sobre os joelhos e de olhar no chão, viveria os sons e a cor dos dias. Verão, Inverno, Verão, sempre parado, dias quentes, dias frios em que a chuva me molhava e ninguém olhava para mim, tudo passaria a correr, só o som rápido das passadas nas poças de água eu sentia.

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