Miguel Anjo
15-Dezembro-1999
Papá, quando é que é o
Natal?
Quando uma pessoa quiser. Por vezes dizem isso. [Eu devia estar agora
a estudar, mas...] Isso não me tem saído da cabeça. Porque não é
mesmo quando se quiser. Comigo, ou melhor, com o meu filho, há de ser.
Porquê?
Tudo começa por a minha namorada crer em deus. Quem é ele? Por essa
mesma pergunta eu digo que o Natal para o meu filho há de ser quando ele
quiser, talvez quando nós sortearmos. Não será engraçado, todos os
anos, no dia que dizemos ser natal (sim, porque não há dinheiro para
fazer o natal todos os dias, como queríamos) sortear a data do natal do
ano seguinte?
Ei de fazer isso. Penso no dia em que no início do Verão coloco na porta
do apartamento um daqueles ramos tolos a dizer “Feliz Natal”. Monto
uma árvore de Natal na entrada da casa ou na sala, um mês antes, e vivo
aquele espírito que na minha opinião todas as crianças precisam de ter
(por isso mantenho o Natal, pois enquanto não tenho o filho de que falo,
o Natal para mim são as férias e uma altura chata que a minha namorada
me pretere em relação à família e em que a minha família quer estar
junta comigo incluído) durante um mês inteiro. Tal e qual como se fosse
em Dezembro. Vamos comprando prendas uns para os outros para no dia
escolhido abrirmos.
Logo que seja compreensível para o meu filho explicar-lhe-ei o porquê
desta escolha e espero que ele entenda.
Eu não gosto do Natal, já o
disse mas reafirmo. Passei várias vezes estas férias apenas com os meus
pais, fora de casa, e foi bastante bom. O principal das férias que
retenho? Passar o dia 24 e 25 de Dezembro tal como se fosse outro dia
qualquer. Uma mania que algumas das férias temos é tomar um banho de
mar. Apetecia-me este ano passar esta época estúpida (sim, talvez esteja
a ser incoerente, mas para mim tanto podia chamar-se Natal como “Prendário”)
só com a minha namorada, como os pais dela ainda não deixaram até hoje.
[Talvez venham a ter uma surpresa quando ela for passar uns dias a Lisboa.]
O ano novo vale pela festa,
embora já o tenha escrito numa outra vez que esse talvez seja o dia mais
indicado para uma reunião de família, todos juntos gritar: “E vai mais
um!”, esperando que nessa festa não faltasse ninguém por motivo
triste.
O ano novo, pensei e penso, ainda estou por decidir, como vou passar.
Queria mais uma vez ser com a minha namorada, mas no meio da cidade, no
meio da multidão, da festa. Ela mais uma vez devido à religião (embora
ela diga família, que para mim equivale à religião, pois inclui idas à
igreja aturar padres e perder tempo a dizer o mesmo sessão após sessão,
após sessão, após sessão) não a vai passar comigo. Tenho vontade de
fazer o programa sem ela: passar o ano, só (e o seu significado é o
pior) no meio de Lisboa, a ver as outras pessoas todas a festejar e eu...
Bom, estou mais triste do que
quando comecei. Não vale a pena, pois não?
Tenho de estudar, amanhã tenho mais uma frequência.
Miguel Anjo
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