Metodologia de Dimensionamento
Estruturas de Pavimento e Características dos Materiais
Estruturas de Pavimento e Características dos Materiais
As estruturas de pavimento e as características dos materiais seguem de muito perto as indicações do Manual de Concepção de Pavimentos para a Rede Rodoviária Nacional. O PaviFlex 2.0 considera dois tipos de pavimento: o pavimento flexível de base betuminosa e o pavimento flexível de base granular.
FIGURA I - Pavimento Rodoviários Flexíveis: (esquerda) base betuminosa; (direita) base granular.
No pavimento de base betuminosa admitem-se cinco classes de fundação (F1, F2, F3, F4 e F5), caracterizadas, respectivamente, por módulos de deformabilidade de 30, 60, 100, 150 e 200 MPa. No pavimento de base granular são consideradas as três classes de fundação menos resistentes (F1, F2 e F3). No QUADRO I resumem-se as características das estruturas de pavimento. A espessura total das camadas betuminosas é constante para cada caso em análise e o seu módulo de deformabilidade é variável pois depende da temperatura de serviço. Para o coeficiente de Poisson adoptam-se valores de 0,30 para as camadas granulares e 0,35 para as camadas betuminosas e solo de fundação.
QUADRO I – Características mecânicas e geométricas dos pavimentos
Tipo de Pavimento | Tipo de Camada | Módulo de Deformabilidade (MPa) | Espessura da camada | ||||
F1 | F2 | F3 | F4 | F5 | |||
PAVIMENTO
DE BASE BETUMINOSA |
Betuminosas | variável | variável | variável | variável | variável | constante |
Sub-base granular | 60 | 120 | 200 | 300 | 400 | 20 cm | |
Solo de fundação | 30 | 60 | 100 | 150 | 200 | semi-infinita | |
PAVIMENTO
DE BASE GRANULAR |
Betuminosas | variável | variável | variável | variável | variável | constante |
Base granular | 150 | 300 | 500 | - | - | 20 cm | |
Sub-base granular | 60 | 120 | 200 | - | - | 20 cm | |
Solo de fundação | 30 | 60 | 100 | - | - | semi-infinita |
Acções: o Tráfego
O número acumulado de passagens do eixo-padrão de 80 kN, durante o período de dimensionamento e na via mais solicitada, N, é estimado pela seguinte expressão:
em
que:
TMDA – tráfego médio diário anual de veículos
pesados, no ano de abertura, por sentido e na via mais solicitada;
t – taxa média de crescimento anual do tráfego
pesado;
p – período de dimensionamento em anos;
a – factor de agressividade.
O Manual de Concepção de Pavimentos caracteriza o tráfego através de seis classes principais definidas através do TMDA ou dos restantes elementos utilizados na equação anterior.
QUADRO II - Classes de tráfego
Classe de tráfego | T6 | T5 | T4 | T3 | T2 | T1 |
TMDA | 50-150 | 150-300 | 300-500 | 500-800 | 800-1200 | 1200–2000 |
t - taxa de crescimento (%) | 3 | 3 | 4 | 4 | 5 | 5 |
a - factor de agressividade | 2 | 3 | 4 | 4,5 | 5 | 5,5 |
N - n.º acumulado de eixos-padrão (106) | 2 | 8 | 20 | 40 | 70 | 100 |
A incorporação da variação horária do tráfego no processo é feita, de forma mais rigorosa que o habitual, aplicando um modelo de distribuição horária, cujos valores da distribuição percentual horária do TMDA médio são indicados no QUADRO III.
QUADRO III – Distribuição horária (hora legal) do tráfego de pesados, em % do TMDA
Hora | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |
% TMDA | 1,50% | 1,50% | 1,50% | 1,50% | 2,90% | 4,40% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% |
Hora | 13 | 14 | 15 |
16 |
17 | 18 | 19 | 20 | 21 | 22 | 23 | 24 |
% TMDA | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,90% | 5,00% | 3,80% | 2,60% | 1,50% | 1,50% | 1,50% |
Acções: a Temperatura
O processo usado na obtenção das temperaturas de serviço no pavimento, PETP - método do espectro de temperaturas no pavimento, foi desenvolvido pelo co-autor Picado-Santos na sua Tese de Doutoramento. O método é de aplicação generalizada sendo independente do método de dimensionamento, do critério de dimensionamento, do tipo de pavimento flexível e da classe de fundação.
O método PETP tem por base uma modelação da distribuição horária da temperatura do ar da localização de referência, TA(i), que pode ser simulada por uma curva sinusoidal de equação:
em que TAmax e TAmin representam a temperatura máxima e mínima do ar, respectivamente.
O coeficiente horário a(i) pode ser calculado pela equação:
A equação base é aplicada a cada um dos meses de verão (Abril a Outubro), utilizando para a TAmax e TAmin os valores médios mensais TMXA (temperatura mensal média máxima) e TMNA (temperatura mensal média mínima), disponíveis nas publicações portuguesas de dados meteorológicos. Nos restantes meses, designados por meses de inverno (Novembro a Março), por contribuírem muito pouco para o dano total, o cálculo é diário, sendo considerado o valor médio de TMNA e TMXA.
A equação linear genérica usada no método é do tipo:
em que T(i) representa a temperatura de serviço a uma determinada hora i, TA(i) a temperatura do ar a essa mesma hora e a e b são os parâmetros de regressão linear, aplicável a cada caso e disponíveis em publicação do autor.
Critérios de Dimensionamento
O programa utiliza os critérios de dimensionamento habituais, a verificação à fadiga e à deformação permanente, aplicados nos métodos de dimensionamento propostos pela Shell, pela Universidade de Nottingham ou pelo Asphalt Institute. O dano total, para cada critério, é calculado pela acumulação dos danos horários durante o período de dimensionamento. A lei utilizada, conhecida por lei de Miner, é dada pela equação:
em que:
D - dano total acumulado
durante o período de h horas, e que deverá ser no limite igual a 100% para os
dois critérios;
D(i)
- dano da hora i;
n(i)
– número de aplicações da carga à hora i;
N(i)
- número máximo de aplicações da carga, de acordo com o critério de
dimensionamento utilizado, nas condições existentes à hora i.
Análise Estrutural
Na
primeira versão do PaviFlex as extensões
necessárias à verificação dos critérios de ruína eram calculadas
recorrendo a modelos de previsão calibrados a partir de duas variáveis:
hm
- espessura total das camadas betuminosas (cm);
Em - módulo de deformabilidade das camadas
betuminosas (MPa).
Verificou-se, no entanto, que esta metodologia, ao ser aplicada a um maior número de casos, conduz a uma maior diversidade de modelos e o grau de ajuste nem sempre é satisfatório.
O processo adoptado, ainda mais fiável, também tem por base as extensões obtidas por um método rigoroso de análise elástica e linear. Para cada caso, a extensão (er ou ez) é calculada por dupla interpolação linear, interpolando primeiro em hm e depois em Em.
FIGURA II - Localização dos pontos onde se calculam as extensões necessárias à verificação dos critérios de ruína.
Para o efeito existem valores das extensões guardados em ficheiro na forma de tabela de duas entradas (hm, Em), elaborados para todos os casos, e que abrangem pavimentos com espessura total das camadas betuminosas entre 10 e 40 cm e Em a variar de 200 a 13000 MPa.
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