O poder educativo da Realidade Virtual

 

Pelas suas características específicas a Realidade Virtual encerra em si imensas potencialidades que, nas áreas da Educação e da Investigação, a podem transformar num poderoso instrumento ao serviço de todos aqueles que procuram a mudança e a evolução nestes sectores.

Ao nível do ensino Superior, onde certamente esta tecnologia se instalará em primeiro lugar, a Realidade Virtual será não só uma ferramenta de trabalho e investigação, auxiliando alunos e professores nos seus projectos de pesquisa mas ocupará, também, um papel de relevo como objecto da própria investigação, tornando-se alvo da pesquisa científica.

Nos outros níveis de ensino ela será utilizada, essencialmente, como iniciação, preparando os alunos para a sua utilização, em maior grau e com maior profundidade, no ensino superior. No seu conjunto esta nova tecnologia reúne especificidades e atributos que a tornam a ferramenta ideal para múltiplas situações e contextos de pesquisa e aprendizagem. Em primeiro lugar as três características básicas da Realidade Virtual, os elementos que constituem os seus pilares e sem a conjunção dos quais não teremos Realidade Virtual: imersão, interactividade e manipulação.

Imersos no mundo virtual os intervenientes participam numa aventura, numa viagem exploratória que, à partida, suscita a curiosidade, o interesse, o desfio e consequentemente, a motivação, fundamental em qualquer contexto educativo. Envolvido pelo ambiente virtual e fazendo verdadeiramente parte dele, o interveniente poderá desenvolver um comportamento natural e intuitivo, agir de forma semelhante à do mundo real já que, paralelamente à inexistência ou minimização do interface, ele poderá interagir com o mundo envolvente obtendo dele, se possível em tempo real, a resposta adequada às suas acções.

De uma forma mais ou menos complexa, a manipulação dentro do mundo virtual assume um carácter muito particular já que atribui à experiência um aspecto mais real, conferindo-lhe um maior grau de veracidade. Um mundo virtual tem de ser suficientemente real para fazer crer e, a imersão total, a interactividade e a manipulação em tempo real, transformam-no no local ideal para múltiplas vivências.

A construção de um mundo virtual – como posteriormente a sua utilização – deverá ser o resultado de um profundo trabalho multidisciplinar, desenvolvido por múltiplos especialistas de diferentes áreas, concorrendo para um objectivo comum. Uma aplicação interdisciplinar traduz-se numa experiência enriquecedora para os professores que colaboram e a utilizam, pelo acréscimo de conhecimentos efectuado. Mas para os alunos estes mundos pluridisciplinares são, também, muito importantes já que, sendo ambientes mais ricos e completos, permitem um ensino e uma aprendizagem mais vastos, profundos e integrados. Ao mesmo tempo, a criação de mundos que permitem responder a diferentes motivações e atingir diversos objectivos , torna-se menos dispendiosa, já que o investimento a realizar pode provir de diferentes sectores.

Movimentando-se no ambiente virtual, o participante adquire uma experiência em primeira mão: a informação não lhe é transmitida por outrem, de modo teórico e essencialmente verbal, sem grandes possibilidades de experimentação, mas é por ele recolhida, de forma directa e pessoal. Assim, através de um percurso exploratório, ele descobre o conhecimento, constrói o seu próprio saber, particular e subjectivo, mas muito pessoal e mais duradouro porque é alicerçado numa experiência pessoal.

Adequando-se aos tipos e ritmos de aprendizagem, a Realidade Virtual permite, também a criação de ambientes onde a aprendizagem se realiza por etapas, sendo as barreiras entre cada uma delas facilmente colocadas e removidas. Através de um percurso faseado, os aprendentes vão-se familiarizando com os conteúdos, equipamentos, rotinas, até que as capacidades exigidas estejam totalmente adquiridas e/ou a informação necessária tenha sido completa e adequadamente assimilada. A Realidade Virtual torna-se, assim, ideal para situações de reabilitação em que as capacidades diminuídas vão sendo recuperadas ao longo de um percurso que evolui de exercícios mais simples para actividades mais complexas; para contextos diversos no âmbito da formação profissional, sobretudo em tarefas complexas e de aprendizagem morosa; para investigação e treino em áreas científicas como, por exemplo, a Química, a Genética ou a Medicina – um cirurgião pode treinar, vezes sem conta, num paciente virtual, os procedimentos necessários numa intervenção cirúrgica, complexificando-se as situações de aprendizagem propostas.

O mundo virtual é um mundo seguro onde tudo está controlado e nada de grave pode acontecer. Assim, experiências laboratoriais que nunca ou raramente são efectuadas porque, para além de dispendiosas podem ser perigosas, poderão agora ser realizadas com segurança, devolvendo aos estudantes uma prática experimental tão necessária mas, simultânea e paradoxalmente tão ausente dos estabelecimentos de ensino.

Este controlo de espaço virtual transforma a nova tecnologia numa preciosa ferramenta ao serviço de deficientes, permitindo-lhes movimentar-se em mundos criados de acordo com as suas particularidades. Pela magia da Realidade Virtual um cego poderá "ver" ouvindo e manipulando; um surdo poderá "ouvir" vendo e tocando.

Os mundos virtuais são mundos intemporais em que o tempo escorre sem na verdade se escoar e onde os acontecimentos passados se podem repetir, da mesma forma ou com alterações, de acordo com os fins pretendidos. A mesma experiência pode ser vivida vezes sem conta, pelo mesmo participante ou por outros, facilitando a compreensão de erros cometidos, a aprendizagem de tarefas e procedimentos complexos, o treino de actividades que quando repetidas, permitirão uma transferência mais eficaz e segura para o mundo real. Nestes espaços, o erro transforma-se em factor de aprendizagem: procurar as causas do erro, analisá-las, repetir as acções e compreendê-las são tarefas necessárias para a resolução do problema e a visualização do processo que a ele conduziu pode facilitar a sua superação.

O espírito de observação, a análise, o sentido crítico, a criatividade, a formulação de raciocínios, são algumas das capacidades que as particularidades dos ambientes virtuais permitem apurar. Os sentidos dos principiantes são como que reeducados funcionando de forma próxima à do mundo real mas diferente, mais estimulados, mais apurados, mais educados.

Podendo adaptar-se aos estilos e ritmos de aprendizagem de cada aluno e permitindo apresentar os conteúdos curriculares de cada disciplina de forma adequada às especificidades dos intervenientes, esta flexibilidade dos mundos virtuais facilita, ainda, a superação de dificuldades. Os aprendentes, paralelamente à possibilidade de se movimentarem num mundo criado especialmente para si e para cuja preparação foram já consideradas as suas características e dificuldades, podem também, visualizar como se constrói o seu próprio conhecimento o que, permitindo-lhes compreender melhor as suas elaborações mentais, lhes facilita a superação de dificuldades. Em todo o processo de utilização da Realidade Virtual na área educativa, o papel do professor continua a ser fundamental. Agora ele é visto como um orientador, que trabalha conjuntamente com os seus alunos e os auxilia, aprendendo com eles simultaneamente.

Em conjunto, no mesmo espaço físico ou separados geograficamente por distâncias reais que as redes eliminam, os alunos podem desenvolver trabalhos cooperativos, consultar bases de dados distantes e especialistas longínquos, aprofundando os seus conhecimentos. Com a Realidade Virtual esta capacidade pode ir ainda mais além, permitindo a criação de espaços de trabalho virtuais partilhados onde os participantes, vendo uns dos outros representações mais ou menos realistas, podem trabalhar em conjunto.

Actualmente o desenvolvimento da linguagem VRML permite já a criação de ambientes 3D na rede, que podem ser explorados por todos aqueles que possuam browsers adequados. Cada vez mais a comunicação on-line passará do domínio 2D para a tridimensionalidade e a Realidade Virtual na rede possibilitará uma comunicação à distância mais próxima e profunda. São muitas as áreas que poderão beneficiar desta aliança e a Educação será uma das mais interessadas e prometedoras.

Com todas as suas potencialidades a Realidade Virtual não constitui, apesar de tudo, uma fórmula milagrosa que permitirá alterar, de forma benéfica e definitiva, os sistemas de ensino. Ela é, essencialmente, um poderoso instrumento de trabalho ao serviço de alunos e professores, cuja utilização contribuirá, certamente, para uma mudança na Educação.

Com a utilização da Realidade Virtual na Educação estamos perante um novo paradigma educativo, que encara a Educação como um processo dinâmico e criativo e que coloca o aluno no centro dos processos de ensino e de aprendizagem, valorizando-o como ser autónomo e completo, capaz de construir o seu próprio saber.

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