Capítulo II.1
O início de uma revolução

 

Eu escrevi o meu primeiro programa informático quando tinha 13 anos, para jogar o jogo do galo. Utilizei um computador enorme e muito, muito lento. O terminal do computador não tinha ecrã. Nós escrevíamos as nossas jogadas num teclado e esperávamos os resultados numa impressora. Um jogo do galo que levava meio minuto com esferográfica, demorava um intervalo inteiro com o computador.

Fotografia de 1969

Fig. II.1.1 - Bill Gates (em pé) e Paul Allen trabalhando num terminal de computador na Escola em Lakeside.

Em 1972, quando eu tinha 16 anos e o Paul Allen 19, o Paul mostrou-me um artigo da Popular Electronics em que era dito que uma empresa chamada Intel tinha lançado um microprocessador chamado 8008. Após o estudo dos manuais do microprocessador chagámos á conclusão que não tinha transístores suficientes para podermos criar uma linguagem BASIC para ele.

Em 1974 a mesma revista anuncia o lançamento do 8080 - dez vezes mais poderoso que o 8008, tinha 2700 transístores, mantendo a mesma dimensão. Era óbvio para nós que com um microprocessador tão poderoso a era dos grandes computadores tinha chegado ao fim. As empresas de computadores da época no entanto, não viram o microprocessador como uma ameaça. Eu e o Paul, vimos que com um processador daqueles podíamos ter um novo tipo de computador - pessoal, 'flexível' e adaptável. Era claro para nós que com um microprocessador tão barato rapidamente ele estaria em todo o lado.

Nós especulávamos que as empresas de computadores fariam o hardware e nós poderíamos fazer o software. Porque não? O microprocessador haveria de alterar a estrutura da indústria. Talvez houvesse lugar para nós os dois. Nós escrevemos para todas as grandes empresas a dizer que escreveríamos a linguagem BASIC para o novo microprocessador Intel. Ninguém nos respondeu.

Paul Allen

Fig. II.1.2 - Paul Allen, co-fundador da Microsoft.

Em Janeiro de 1975 apareceu o Altair 8800 na primeira página da Popular Electronics. Este é o momento que eu considero o inicio de uma nova era. Isto deu realidade aos nossos sonhos sobre o futuro. Este computador tinha como cérebro um Intel 8080. Quando nos sentámos, entrámos em pânico, "Oh não! Está a acontecer sem nós! Vai haver pessoas que vão escrever verdadeiro software para este microprocessador". O legado desta revolução é que hoje são vendidos 50 milhões de computadores pessoais anualmente, e a indústria de computadores foi completamente restruturada. Houve um grande número de vencedores e vencidos. Quanto á Microsoft, nós estávamos no sitio certo no momento adequado.

Popular Electronics de Janeiro de 1975

Fig. II.1.3 - Edição da Popular Electronics de Janeiro de 1975, a revista que levou Paul Allen e Bill Gates a lançar a Microsoft.

Altair 8800

Fig. II.1.4 - O altair 8800 foi um enorme contributo para a revolução da computação pessoal.

Os computadores aumentaram em performance, e diminuíram o tamanho e o preço muito rapidamente. Agora que a computação é extraordinariamente barata e os computadores fazem parte da nossa vida, estamos prestes a assistir a uma outra revolução. Esta envolverá comunicações extremamente baratas e todos os computadores se irão juntar para comunicarem. Ligados globalmente, formarão uma rede, que é chamada Auto-estradas da Informação (AI). Um percursor directo é a presente Internet, que é um grupo de computadores juntos trocando informação usando tecnologia actual.

A maior mudança nas comunicações tomou lugar em 1450, quando Gutenberg introduziu a imprensa na Europa. A cultura Ocidental foi alterada de forma irreversível. Até essa data a vida era comunitária e nada mudava. As pessoas apenas sabiam o que tinham visto, ou o que lhes tinha sido contado. Antes de Gutenberg, existiam cerca de 30 mil livros em toda a Europa, a maior parte Bíblias e comentários bíblicos, em 1500, já eram mais de 9 milhões sobre todos os tópicos.

Gutenberg

Fig. II.1.5 - Gutenberg (1400?-1468) é considerado o inventor da prensa de impressão móvel.

A Prensa de Gutenberg

Fig. II.1.6 - A prensa de Gutenberg ajudou a tornar e a publicação e circulação de literatura em massa possível.

O trabalho hoje envolve tomada de decisões e conhecimento, logo as ferramentas de informação continuarão a ser o foco das nossas atenções. Quando ouvires a expressão 'auto-estradas da informação', em vez de veres uma estrada, imagina um mercado, onde existem trocas. Todas as formas de actividade humana terão lugar, desde negócios de biliões de dólares até puro entretenimento. Informação digital de todos os tipos será o novo meio de troca neste mercado. O mercado de informação global será grande e combinará todos os tipos de bens humanos, serviços e ideias.

Quando as AI existirem, as pessoas, máquinas, entretenimento e serviços de informação estarão todas acessíveis, tu poderás estar em contacto com quem quiseres, onde quer que estejas. Informação que hoje é difícil de encontrar tornar-se-á fácil: o autocarro vem a horas?; houve acidentes na estrada que preciso percorrer?; Qual a forma mais barata de assinar o The Wall Street Journal?, Quais os sintomas de um ataque de coração?; Onde estavas tu na última quinta feira ás 9h e 2m?.

"Aos poucos, a máquina tornar-se-á parte da humanidade", escreveu Saint-Exupéry em 1939. Ele referia-se ao modo como as pessoas tendem a reagir ás evoluções tecnológicas. Inicialmente os comboios eram chamados 'monstros de ferro'. Foram sendo construídas mais estações e mais comboios e estes passaram a fazer parte da vida das pessoas, passando a ser apelidados de 'cavalos de ferro'.