Penacova

 
  História
Quando terão chegado os fundadores de Penacova? Quem eram, de onde vinham, que razões ou motivos os levaram a fixar-se ali? Incógnitas apesar do esforço e das tentativas de alguns e de muitas hipóteses inventadas.

Do longo período que medeia a presumível fundação da vila e a data do primeiro documento que se refere à vila do Mondego de 1105 ter-se-ão passados séculos? Muitos? Poucos ou nenhuns?. O citado documento relata uma contenda entre os habitantes de Penacova e os monges do mosteiro do Lorvão. Foi questão muito grave, provavelmente acerca do senhorio de terras ou tributos, que obrigou o próprio D. Afonso Henriques a intervir pessoalmente e impor a reconciliação, segundo o referido documento, transcrito pelo P. e C. da Costa.

Encontram-se espalhados pela área do concelho vestígios da presença ou passagem de povos bem diferentes: dos Fenícios aos Árabes, contudo estes povos nunca se chegaram a estabelecer com carácter definitivo e, por isso não surgiu nenhuma povoação de importância.

Como preocupação dominante de quem pretende historiar qualquer acontecimento consiste em localizá-lo, no espaço e no tempo: onde e quando? Quando tais preocupações dizem respeito ao aparecimento de povoações, quase sempre separado por longos séculos, todas as respostas se tornaram difíceis. É certo que o grau de dificuldade varia com as perguntas: geralmente fácil localizar geograficamente a fundação, mais difícil situá-la no tempo, muitas vezes impossível descobrir as motivações que levavam à escolha, não raro, até saber quem a promoveu.

No caso de Penacova, paralelo aliás, ao de todas as terras do país nascidas antes ou nos primeiro tempos da monarquia, qualquer tentativa de reconstituição se revela inútil. Os documentos se existem, se existem, são poucos ou, não raro, contraditórios; a tradição por sua vez, adulterou-se ou perdeu-se, ao longo do tempo; e o estudioso ou interessado não tem outro caminho senão o de alinhar hipóteses, mais ou menos prováveis, de acordo com os conhecimentos que tem da vida, costumes e necessidades desses tempos, porventura muito operosas e convincentes mas sem perder a precária condição de meras suposições.

Sem esforço, pode concluir-se, que já no tempo do Conde D. Henrique e, portanto, antes da Fundação da monarquia e do nascimento de Portugal, Penacova existia e era povoação importante. De facto, atendendo a que os ricos e orgulhosos Frades de S. Bernardo estavam no período mais brilhante da sua permanência em Lorvão, cheios de honrarias e de força, toma-se necessário reconhecer que só quem gozasse de algum prestígio poderia chegar a discutir-lhes alguma coisa. Por outro lado também não era qualquer demanda (tão frequentes, já naquele tempo) que merecia intervenção Régia.

Em 1105, portanto surge a primeira referência documental da existência de Penacova, de onde se conclui que a vila é, ao tempo terra importante e que a sua fundação há-de vir de longe, agravando as dificuldades. Desses tempos remotos só resta o silencio e um ou outro documento relativo a factos isolados geralmente à volta de grandes figuras ou cidades. A memória das coisas diluiu-se no tempo e só associando o pouco que nos chegou ao conhecimento, com muito cuidado, é possível fazer um pouco de luz sobre esse passado, tão longe.

Sabemos que Coimbra (a pouco mais de 20 quilómetros de Penacova) era uma das povoações mais importantes da Península Ibérica, sobretudo no tempo dos romanos e mouros; que o mosteiro de Lorvão, por seu lado, foi construído em data incerta mas situada algures pelo século VI, antes da invasão muçulmana, e que, ao tempo em que estes tomaram Coimbra, se tornou um centro importante de Moçarabismo (lembramos que Moçarabe era o habitante da Peninsula que, durante o domínio dos mouros, aceitava a cultura e o modo de vida destes sem, contudo, renegar a sua fé): e ainda, que as povoações mais pequenas iam aparecendo em lugares estratégicos, junto aos grandes castelos ou mosteiros, onde podiam refugiar-se quando as suas terras eram invadidas por inimigos (convém não esquecer que a peninsula foi palco de constantes migrações, muitas vezes violentas, desde os tempos pré-celtas até aos súbditos de Roma e aos povos de origem germânica, asiática e africana!).

Sabemos, também, que o nome de Penacova vem do cantábrico PEN - quase (ainda em fins do século passado .se escrevia PENA - COVA, possível evolução de PEN A COVA) ou de PENA, de origem germânica, (que significava "pequeno castelo".

Ora a primeira hipotese terá deixa supor que a vila terá sido construída (ou reconstruída) por populações vindas dos Cantábricos o que seria muito provável nos tempos da reconquista aos mouros, com a vinda dos povos de todo o centro e norte da península, atraídos pelas regalias que lhes eram concedidas nas terras recentemente (re)conquistadas. Nesse tempo já existia o apoio do Mosteiro de Lorvão, o rei de Coimbra era mouro e tolerava o culto da religião católica e não admira que se tenham fixado em Penacova e na região. A segunda hipótese permite supor que a fundação da Vila é mais remota, do tempo dos invasores de origem germânica e, portanto, muito anterior ao tempo dos Muçulmanos. Por outro lado leva a concluir que Penacova teve castelo nos seus primeiros tempos ou, pequeno castelo. Isto não deixa de ser curioso, porque Pinho Leal (que não se pode considerar um investigador mas tem o mérito, inegável, de ter divulgado tudo o que se sabia acerca de inumeráveis terras do país - no .século passado) é o único historiador a afirmar que Penacova teve castelo. Diz ele que a vila teve o seu "remotíssimo castelo no monte sul", onde depois se construiu a Igreja Matriz. A ser verdade, teríamos de recuar ainda mais no tempo e situar a fundação da Vila mais longe. Não é de crer que, sendo a vila fortificada e encontrando-se no corredor onde passaram, sucessivamente mouros e cristãos nos tempos da reconquista, não fosse referida nas crónicas dessas lutas. Portanto, já então o castelo teria desaparecido, talvez nalguma invasão anterior.

Em suma: não é possível ir além de meras suposições ainda que os factos apontados nos deixem concluir que a fundação da vila é antiquíssima, possível desde o tempo das primeiras invasões. Coimbra seria a sombra protectora. E nos alvores da fundação de Portugal, Penacova era terra importante, a ponto de merecer as atenções do futuro Rei.

O segundo documento conhecido que se refere directamente a Penacova e, ainda, do século XII, embora quase um século posterior. Trata-se do foral da Vila, concedido por D. Sancho I em 1193 (ou 1192, segundo diz Pinho Leal). O seu interesse é muito maior, podendo-se afirmar, sem exagero, que é o documento mais importante da história de Penacova. Como se sabe, os forais daquele tempo eram cartas nas quais o rei ou os senhores muito poderosos indicavam normas que regiam a justiça e a vida social das povoações que lhes pertenciam, além de concederem sempre, amplos privilégios e garantias aos moradores. Assim se conseguia que as famílias se unissem e prendessem a determinada povoação, fixando residência e colaborando na sua defesa e progresso. E foi graças ao foral que Penacova cresceu, nesses tempos difíceis, porque antes, em data imprecisa mas situada na segunda metade do século XII, todos os antigos habitantes abandonavam a terra. Não conhecemos as razões mas sabemos que foi isso que levou D. Sancho a conceder o foral. O facto aliás, confirma o que dissemos atrás acerca da importância de Penacova. Não só o repovoamento foi imediato e acompanhado do foral como, pouco depois, D. Afonso II tomou a iniciativa de confirmá-lo ao passar por Coimbra em 6 de Novembro de 1217.

Relembrando mais uma vez o que foi dito, parece-nos digna de atenção outra hipótese que virá confirmar a origem antiquíssima da vila, a origem germânica do topónimo e dos fundadores, a existência do castelo e a sua projecção, nesse tempo. É bem possível, afinal que ao tempo da reconquista a Vila tenha sido destruída com o seu castelo e que tenha entrado em declínio que iria arrastar-se durante longos anos e culminar no abandono total ao tempo de D. Sancho I e que as atenções que logo mereceu a este monarca como aliás, já tinha merecido ao pai, D. Afonso Henriques reflectiam a tal projecção, vinda dos melhores tempos.

Segue-se novo e longo período de silêncio que vai até século XVI, quando reinava D. Manuel I. Os condicionalismos eram outros, o estilo de vida evoluíra e o rei decidiu reformar todos os forais. Penacova teve "Foral Novo" em 31 de Dezembro de 1513 passado em Lisboa. O conteúdo é muito diferente do primeiro, porque o rei não se preocupa agora em atrair moradores às povoações concedendo-lhes regalias, mas em acautelar os seus interesses regulando o pagamento dos impostos. Por isso os novos forais quase se limitam a definir questões de ordem fiscal e jurídica.

O Mosteiro de Lorvão (que desempenhou um papel histórico na reconquista de Coimbra em 1064) foi fundado três séculos antes da instauração de Nacionalidade. Nele tiveram clausura as infantas beatificadas D. Teresa e D. Sancha, filhas de D Sancho I. Ali repousam os seus restos mortais em dois belos túmulos de prata lavrada.

A igreja no estilo Joanino de Mafra, e uma construção do século XVIII. No entanto o que desperta mais a atenção do visitante é o célebre cadeiral e na sala do capítulo um pequeno museu com algumas peças de grande valor artístico. A Igreja Matriz também data do primeiro ano do século - 1500.

Não há documentos que relatem pormenores da construção ou de quem a promoveu. Sabe-se da data através de inscrições nalgumas lápides. De resto, encontram-se na sacristia alguns trabalhos em pedra, muito curiosos, atribuído ao celebre João de Ruão e pouco mais. Consta que a primitiva Igreja Paroquial de Penacova foi a Capela de Nossa Senhora da Guia e que se construiu a nova Matriz no séc. XVI por aquela se tornar pequena e se encontrar num sítio incómodo. Um certo Plácido Castanheira de Moura teve, ainda, intenção de construir uma Igreja nova com a mesma devoção mas a morte surpreendeu-o antes de iniciar tal projecto Deixou, entretanto algumas fazendas à capela.

Outra construção muito antiga e importante foi o conhecido Paço dos Duques do Cadaval ou, com maior fidelidade dos Condes de Odemira, seus primeiros proprietários. Os membros desta nobre família foram os primeiros donatários de Penacova, passando mais tarde para os Senhores de Tentugal, depois Duques do Cadaval.

As justiças da vila dependiam do Ouvidor de Tentúgal antes de passarem à Jurisdição do Corregedor de Coimbra.

Até ao ano de 1855 apenas cinco freguesias faziam parte do concelho de Penacova onde aliás se mantêm. Eram além de Penacova, Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão e Sazes. Nesta data a fisionomia do concelho alterou-se profundamente em consequência das grandes Reformas Administrativas em que aquele século foi pródigo. Foram criadas suprimidas ou reagrupadas muitas das autarquias locais por todo o país. Muitos concelhos. Às freguesias sucedeu a mesma coisa desapareceram umas, surgiram outras mas em número incomparavelmente menor. As aldeias/povoações andaram de freguesia em freguesia, hoje numa, amanhã noutra ao sabor de caprichos e interesses menores. Penacova conheceu grandes benefícios continuou sede de concelho e recebeu, para a sua Jurisdição mais quatro freguesias sem perder qualquer das que já integravam o seu pequeno concelho. Farinha Podre (que tinha sido concelho até há pouco, como se verá na história da freguesia, hoje designada S. Pedro de Alva), Friúmes, Oliveira do Cunhedo (actualmente como se sabe Oliveira do Mondego) e Travanca. Surgiram depois outras reformas que não afectaram o concelho de Penacova mas, ao findar do século, mais duas freguesias vieram enriquecer o concelho: S. Paio da Farinha Podre (hoje S. Paio do Mondego) e Paradela da Cortiça.

Foi em 1898 e, desde então até aos nossos dias o concelho de Penacova não conheceu outras alterações, ficando os seus 219,76 Km2 quadrados distribuídos pelas onze freguesias que o constituem.