Tecnologia 64-bits: vale a pena o investimento?

por

Manuel Jorge Brandão Estêvão de Araújo

Departamento de Engenharia Informática

Universidade de Coimbra

3030 Coimbra, Portugal

maraujo@student.dei.uc.pt

 

 

Resumo

Os processadores de 64 bits estão aí. Eles conseguem (teoricamente) mapear quantidades de memória infinitamente maiores que as que estamos habituados, além de números maiores, e portanto trazem benefícios para muitas aplicações utilizadas em ambiente empresarial. Mas num mundo a funcionar nos 32 bits esta transição tem alguns custos. Eles vão acabar por substituir os processadores que utilizamos agora, mas quando é que as empresas devem investir na migração? E os benefícios, cobrem os custos?

Para responder a estas perguntas existem vários métodos de análise de investimentos, técnicas utilizadas para fortalecer os laços entre as TI e os objectivos das organizações e para ajudar os gestores a definirem as suas prioridades quanto ao caminho que se deve seguir para cumprir esses objectivos.

 

Palavras chave: 64 bits, investimento, ROI, ROV, Balanced Scorecard, Portfolio Management

 


Introdução

A era dos sistemas de 32 bits está a aproximar-se do fim. Os sistemas de 64 bits, apesar de ainda terem uma penetração de mercado diminuta, são o futuro. Eles oferecem capacidades de processamento maiores que os sistemas actuais, bem como uma escalabilidade em termos de memória na ordem de números aparentemente inatingíveis para os padrões de hoje. A necessidade de substituir os sistemas de 32 bits começa então a surgir. Mas será que vale a pena fazê-lo agora? E de que maneira é possível analisar os custos e benefícios, quer financeiros quer organizacionais, desta evolução da tecnologia.

Este artigo visa clarificar alguns aspectos dos processadores de 64 bits, particularmente as diferenças entre estes e os de 32 bits e a maneira como eles os estão a substituir. Visa também mostrar a importância da análise cuidada dos investimentos, descrevendo alguns dos métodos utilizados nas organizações para os analisar e justificar. Finalmente, é feita uma pequena análise sobre o investimento nos 64 bits nas empresas na actualidade e tecem-se algumas conclusões.

 

64 bits

 

De certeza que já todos ouvimos os termos 8, 16, 32, 64 ou 128 bits, muito utilizados no mercado das consolas de jogos. Mas o que é que estes querem dizer, para além de darem a impressão de maior velocidade? Estes números referem-se, muito simplesmente, ao tamanho de cada pedaço de informação, ou word, que o processador pode utilizar. No caso da grande maioria dos PCs actuais, este tamanho é de 32 bits.

 

Em termos práticos, estes 32 bits significam que o maior número que pode estar presente em memória é 11111111111111111111111111111111 em binário (32 1's) – equivalente a 2 32 -1 = 4.294.967.295 em valores decimais – ou que os endereços dos registos da memória vão variar entre 0 e 2 32 -1, já que o processador não pode utilizar um número maior que este. Isto quer dizer que um cálculo que envolva números maiores que este implicam mais ciclos de processador ou que existe um limite de 4.294.967.295 bits, ou 4GB, na memória RAM.

 

Este limite de 4GB não era muito importante em 1985, altura em que se deu o salto dos 16 bits para os 32 [1], e em que os computadores tinham memórias de 1MB. Mas à medida que a tecnologia evolui e as necessidades dos programas vão aumentando, o limite vai ficando cada vez mais perto de ser atingido. É cada vez mais normal ver desktops com 1GB de memória RAM e as necessidades dos servidores de base de dados e dos servidores Web crescem de dia para dia. Estes sistemas podem ter mais memória – até 64GB, acessíveis através de registos de 36 bits – mas este esquema apresenta alguns problemas [mais informação aqui ]. Os processadores mais modernos sofrem, portanto, do mesmo limite de endereçamento que os processadores de há 20 anos atrás.

 

Assim, o que é que o próximo salto vai trazer? Os processadores de 64 bits são capazes de lidar com números muito maiores que os de 32 bits. Se 2 32 -1 (aproximadamente 4,295x 10 9 ) já é um número bastante grande, 2 64 -1 equivale ao gigantesco valor de 1,845x10 19 . Isto quer dizer que estes processadores colocam o limite da memória – teoricamente – em 18 milhões de terabytes (1 terabyte = 1024 GB)!

 

Estes sistemas não são propriamente novos. Já existem processadores de 64 bits ou mesmo de 128 bits há bastante tempo; pode-se olhar por exemplo para a consola Nintendo 64, que saiu em 1996 e tinha um processador de 64 bits. O problema destes sistemas é que são arquitecturas fechadas, sistemas proprietários para os quais a oferta de software é limitada e cujo retorno demora a chegar [1]. A questão que se coloca agora é substituir os sistemas de 32 bits utilizados por todos por uma arquitectura de 64 bits, ou seja, implementar um novo standard .

 

Mas quais são as vantagens destes sistemas em aplicações práticas? As aplicações que podem beneficiar mais deste salto são:

 

•  Bases de dados: torna-se possível colocar uma base de dados inteira do tipo data warehouse em memória. Como a memória é muito mais rápida que os discos, daqui advém um grande ganho de performance. A manipulação de dados de grandes dimensões e a indexação também se torna mais fácil e mais rápida com registos de 64 bits [1].

 

•  Cálculo matemático de precisão: a possibilidade de fazer cálculos com números maiores que 4,295x 10 9 num só ciclo do processador, além de os poder colocar em memória mais facilmente, traz grandes vantagens para as aplicações científicas e financeiras que necessitam de grande precisão. As aplicações de imagem e som e modelação 3D (CAD, CAM, edição de vídeo e som, etc.) e as aplicações em ambiente industrial também podem beneficiar bastante com este aumento de precisão e de espaço [1].

 

•  Criptografia: os esquemas criptográficos mais utilizados baseiam-se na multiplicação e factorização de inteiros de grandes dimensões (número maior = mais segurança), portanto os processadores de 64 bits são bastante vantajosos para este tipo de aplicações [2].

 

De um modo geral, as aplicações que utilizam muita memória (seja ela RAM ou virtual) são as grandes beneficiadas com esta migração. Mas nem tudo são rosas. Entre as desvantagens dos sistemas de 64 bits estão:

 

•  Mais cache misses: é verdade que a memória pode aumentar bastante, mas o tamanho dos endereços de memória também aumenta para o dobro. Assim, um ponteiro de 64 bits vai ocupar mais espaço na cache que um de 32 bits, o que leva a um aumento de cache misses na ordem dos 5%, de acordo com a DEC [3]. O tamanho das caches tem portanto de ser maior.

 

•  Faltam aplicações: a maioria das aplicações existentes no mercado são de 32 bits e portanto não tiram partido das possibilidades destes processadores, a não ser que necessitem da memória extra que fica disponível. Um sistema operativo de 64 bits também é necessário para retirar todo o partido destes sistemas.

 

•  Drivers: qualquer driver escrito para um sistema operativo de 32 bits não vai funcionar num sistema operativo de 64 bits. É possível portanto que algumas placas ou perfiféricos não funcionem logo de início.

 

O facto da grande maioria das aplicações serem escritas para sistemas de 32 bits vai ter influência num outro aspecto dos processadores de 64 bits: como é que é feita a retrocompatibilidade com as instruções da arquitectura x86? E esta retrocompatibilidade permite ter a mesma performance? Neste aspecto a Intel e a AMD desenvolveram os seus processadores de 64 bits de maneiras diferentes:

 

Intel

 

A Intel desenvolveu o Itanium, o seu 1º processador de 64 bits para PCs, em 1999. Uma performance considerada desapontante [4] fez com que o seu sucessor, o Itanium 2, surgisse 3 anos depois. O Itanium, desenvolvido em parceria com a HP, é um processado puramente de 64 bits com uma arquitectura muito diferente da x86. Tem no seu interior um sistema, denominado EPIC (Explicit Paralel Instruction Computing) que analisa o código na altura da compilação e o optimiza de modo a que o software possa “avisar” o processador quando há instruções que podem ser processadas em paralelo. Esta aproximação leva a que os programas escritos para a geração anterior de 32 bits tenham de correr num ambiente de emulação, o que tem provocado performances algo desapontantes [6]. Isto levou a Intel a adoptar a aproximação que é descrita a seguir para os processadores Xeon.

 

AMD

 

Ao contrário da Intel, a AMD não descartou a arquitectura x86 na passagem para os 64 bits. Em vez disso, nos seus Athlon 64 e Opteron, pegou no conjunto de instruções dos x86 e adicionou-lhe um novo set de instruções de 64 bits, além de 2 modos diferentes. Para correr aplicações de 16 ou 32 bits num sistema operativo comum, o processador dispõe de um modo Legacy, em que funciona como um normal processador x86; já num sistema operativo de 64 bits ele funciona no modo Long, que dispões por sua vez de 2 sub-modos, um para correr aplicações de 64 bits e outro para correr aplicações de 16 ou 32 bits [2]. Com esta aproximação híbrida, chamada x86-64 ou AMD64, o processador oferece suporte nativo para aplicações escritas para a arquitectura x86. Os Athlon 64 e os Opteron da AMD conseguiram performances muito melhores que os Itanium da Intel nas aplicações de 32 bits e a Microsoft desenvolveu uma versão do Windows Server 2003 para estes sistemas [7]. A Intel entendeu que provavelmente estava a andar depressa demais e acabou por adoptar o set de instruções x86-64 da AMD nos seus processadores Xeon de 64 bits [5].

 

 

Planeamento dos investimentos

 

Para perceber se o investimento nos 64 bits vale a pena, é preciso primeiro perceber de que forma são calculados os riscos e os benefícios dos investimentos nas empresas, mais concretamente no que diz respeito a tecnologia. As tecnologias e sistemas de informação assumem uma importância muitas vezes vital nas empresas de hoje. Por essa razão, os investimentos nestas áreas têm de ser bem avaliados, com base em métricas bem definidas e não porque “é novo” ou “tem 5 gigas de RAM” ou “tem uma cor bonita e combina com as paredes do escritório”.

 

Como seria de esperar, não há uma única maneira de o fazer e nenhum método é infalível. Existem métodos para o investimento nos clientes, o investimento em tecnologia; um baseia-se no valor que x representa para o futuro, outro no valor que y representa em termos de ganhos económicos; um custa 10 a análise, outro 20… Percebe-se portanto que os gestores têm muito por onde escolher. Mas, como é referido por Tracy Mayor em [8], todos estes processos têm coisas em comum, como por exemplo:

 

•  Todos têm como objectivo criar ou fortalecer uma ligação entre as TI e a estratégia de negócio;

 

•  Necessitam que todas as partes sejam claras sobre os seus objectivos e expectativas no que toca ao investimento em causa;

 

•  Todos tentam ajudar os gestores a definir prioridades;

 

No que respeita ao primeiro ponto, a avaliação dos investimentos é importante porque consegue criar uma relação causa-efeito entre a tecnologia e os benefícios financeiros (entre outros) que dela advêm, que é algo que nem sempre salta à vista. Assim é possível ver em que aspectos é que a empresa fica a ganhar por investir num dado programa ou num dado sistema.

 

Quanto ao segundo ponto, é fácil ver que sem que as pessoas sejam sinceras ou claras sobre o que esperam do objecto do investimento, o método de análise, por mais avançado que seja, não vai produzir resultados fiáveis. Para que a análise funcione é necessário que os futuros utilizadores do sistema (presentes no caso de um upgrade ) ou os gestores da empresa consigam articular quais são os requisitos que querem ver preenchidos e qual é o objectivo do investimento.

 

Como eu disse há uns parágrafos atrás, existem muitos métodos para avaliar os investimentos. Para o tema em questão, nem todos dão para aplicar directamente. Muitos dos métodos giram à volta de métricas que não são para serem utilizados na análise deste tipo de investimentos. Isto à primeira vista.

 

Tal é o caso do Costumer index , um método que analisa vários parâmetros dos clientes da empresa (retorno, despesas, lucro, etc.), de forma a descobrir qual é o valor que cada um representa para a empresa. De que forma é que este método pode ser utilizado para investimentos em tecnologia? Bem, de acordo com Rainer Famulla [8], parceiro da Andersen Consulting, esta análise pode ajudar, por exemplo, a determinar em que medida é que o investimento numa determinada tecnologia vai influenciar o valor de cada um dos clientes. Ele acrescenta que “esta ideia não é relevante para companhias com poucos clientes” mas sim para companhias em que o número de clientes é o aspecto que “orienta o negócio”.

 

Mas existem métodos mais “directos” que este para determinar os benefícios de novas tecnologias. Segue-se então a descrição de alguns deles:

 

ROI

 

O ROI, sigla de Return On Investment é um método bastante simples e popular de análise de investimentos. Como se vai poder ver mais adiante, ele também é utilizado em conjunção com outros métodos. Ele baseia-se numa lógica de benefícios versus custos, como é possível verificar pela fórmula, baseada na disponível em [9]:

 

 

Os benefícios totais correspondem a tudo o que seja decorrente do investimento que possa acrescentar valor à empresa. Estes podem ser financeiros (dinheiro poupado, dinheiro ganho) ou um pouco mais abstractos (vantagens competitivas ou estratégicas, por exemplo). Seja como for, estes são calculados através de métricas que têm de ser cuidadosamente escolhidas. Isto porquê? Bem, não é difícil ver que a escolha de métricas que não são influenciadas directa ou indirectamente pelo objecto do investimento podem dar indicadores errados no que respeita à sua rentabilidade. O mesmo é verdadeiro para as métricas em que a influência não têm peso suficiente para determinar se o investimento é bom ou não. No final, se as métricas não forem bem escolhidas, calcular os benefícios pode até nem ser muito diferente de atirar palpites para o ar. E quando se joga com investimentos de muitos milhões de euros, isto pode ser muito perigoso para a saúde financeira da empresa.

 

Quanto aos custos totais, estes em princípio são mais fáceis de determinar. Serão? Alguns custos, tais como os benefícios, também podem não ser tão visíveis. Os que saltam logo à vista são, claramente, os custos de aquisição e instalação, configuração, etc., dependendo da situação e do investimento. Mas vamos pensar numa situação em que o objecto em causa obriga a que, por exemplo, os empregados da empresa estejam ocupados com algo que os afaste do trabalho que têm a fazer, como a situação descrita em [9], em que os trabalhadores estão a ter aulas de formação. Neste caso há um custo de produtividade. Este caso dá-nos ainda outros custos, como material das aulas, salas ocupadas, custos com refeições, etc. Logo, é importante ser o mais abrangente possível ao recolher os custos, ou pode lá faltar qualquer coisa que no fim se pode revelar decisiva e elevar os custos do investimento para valores para os quais não se estava preparado.

 

Uma proposta da Alinean para o ROI [10] acrescenta um outro factor para calcular os custos: o risco. Este, segundo a descrição feita, pode ser “um qualquer factor futuro que possa afectar um projecto e levar a um aumento de custos ou a uma diminuição dos benefícios”. Estes factores podem ser medido em termos de probabilidade de ocorrência e de impacto nos custos ou benefícios totais. Aqui podem ser incluídos factores como recursos humanos com conhecimentos insuficientes para lidar com a solução ou sistema escolhido, problemas de compatibilidade futuros, falta de aceitação por parte dos utilizadores, mudança da estratégia da empresa, entre outros. É portanto uma adição bastante interessante que força os gestores a considerar se os riscos envolvidos no investimento podem ou não vir a desestabilizar alguns aspectos da empresa.

 

ROV

 

Ou Real Option Valuation . Este método tem uma sigla parecida mas é bastante diferente do anterior. O ROV tem como objectivo avaliar investimentos rodeados de uma aura de incerteza, principalmente quanto ao futuro [11]. O ROV tem sido posto em prática por várias companhias, tais como a NASA [11], o consórcio europeu Airbus, a Texaco e a Roche [12], entre muitas outras. E porquê? Vamos por partes.

 

Primeiro, o nome. O que são estas real options ? Estas não são mais que as opções de negócio que surgem de uma série de cenários passíveis de alterar o valor do investimento no futuro [12]. Segundo Thomas Copeland [13], estas opções são “o direito, mas não a obrigação, de tomar uma acção (…) a um custo predeterminado (…), por um período de tempo predeterminado”. A este tempo corresponde o “tempo de vida da opção”. O ROV serve portanto para avaliar estas opções e determinar o seu valor.

 

Segundo, as vantagens em comparação com outros modelos. Segundo vários autores [11][12][13], a grande vantagem deste método de análise é a flexibilidade que este oferece aos gestores. Ao confrontar o investimento com vários cenários futuros, cada um com um os seus riscos e benefícios, é possível decidir se o este vale a pena altura, ou se deve ser atrasado ou mesmo abandonado. Desta maneira são colocados em jogo factores com que os modelos clássicos de ROI simplesmente não contam [12]. Daqui advém a flexibilidade de se saber com o que contar no futuro e ter plano para várias as situações que possam surgir.

 

Mas o ROV é um modelo complexo. Isto porque o valor de uma opção depende de muitas variáveis e muitas vezes de outras opções anteriores ou paralelas [12]. Um exemplo em [13] ilustra bem a situação: ao construir uma fábrica pode-se decidir fazê-lo por fases (projecto, engenharia, construção). Cada uma destas fases constitui uma opção e portanto há o direito de continuar ou parar no fim de cada uma. Qualquer que seja a decisão, esta vai alterar o valor das opções seguintes. Mais, ao criar uma situação futura, há que estimar quais são os valores envolvidos nessa altura e prever o futuro nunca foi fácil. Pode acontecer, por exemplo, que os impostos aumentem, que a inflação diminua, que o preço dos combustíveis dispare, que um concorrente vá à falência, etc., etc. Posto isto, é necessário que todas as variáveis dos cenário que possam alterar o valor do investimento sejam tidas em conta e que os valores dessas variáveis sejam estimados [12], o que em situações mais complexas pode ser bastante complicado.

 

 

Portfolio Management

 

De um ponto de vista financeiro, um portfolio corresponde a um conjunto de investimentos pertencentes a uma empresa ou indivíduo [14]. O facto de se ter um portfolio de investimentos faz parte duma estratégia limitadora de riscos chamada diversificação: ter vários interesses reduz os riscos associados a cada um dos elementos do portfolio. Para que isto funcione, no entanto, os investimentos têm que ter riscos que não estejam interrelacionados [15].

 

O Portfolio Management é um método de alinhar as TI com os objectivos de negócio da empresa. Isto é feito analisando os projectos do portfolio e comparando-os com os objectivos estratégicos da empresa. Os investimentos mais arriscados são contrabalançados com investimento mais seguros e é feito um acompanhamento do conjunto para descortinar quais são os projectos que estão a funcionar, quais os que precisam de mais ajuda ou os que devem ser abandonados [17].

 

Para se construir e gerir um portfolio, devem-se seguir os seguintes passos, retirados de [17]:

 

•  Construir um inventário dos projectos: Tudo começa com o recolher de todos os projectos em linha na empresa. Idealmente, estes já devem ter variáveis como o objectivo de negócio, os custos e os benefícios calculadas, bem como uma análise ROI já feita. Este inventário ajuda os gestores a terem uma visão geral sobre os investimentos que estão a ser feitos em TI e a detectar redundâncias que possam existir entre eles.

 

•  Identificar os projectos que estão em consonância com os objectivos da empresa: Aqui, os gestores da empresa e do departamento de TI começam a construir o portfolio. Cada um dos projectos é analisado com base em business cases que mostram os custos, os riscos e os benefícios associados a estes. A partir daqui, são seleccionados os que mais se aproximam dos objectivos estratégicos, enquanto que os outros são eliminados. Não devem, no entanto, ser todos excluídos do portfolio, já que este deve incluir também os projectos que podem vir a ser aprovados no futuro [16].

 

•  Categorizar os projectos: Depois de construído o portfolio, os projectos devem ser ordenados pela sua prioridade. Cada caso é um caso, portanto o modelo utilizado numa empresa para definir estas prioridades pode não servir para outra. O modelo utilizado na Brigham Young University assenta, em termos gerais, em 4 pontos:

 

•  Identificar 4 a 7 estratégias

•  Definir um critério de comparação com os projectos por cada estratégia

•  Pesar cada critério

•  Classificar de maneira simples (na Brigham Young University foi utilizada uma escala de 1 a 5).

 

Os projectos com a prioridade mais baixa que não podem ser executados com os recursos disponíveis no momento são então colocados em suspensão.

 

•  Rever o portfolio: Revisões frequentes são essenciais para que o portfolio se mantenha actualizado e para que os gestores tenham uma visão sobre a maneira como os projectos estão a decorrer. Desta maneira, projectos que necessitam de mais recursos podem obtê-los mais rapidamente e projectos que deixaram de ter ligação aos objectivos estratégicos da empresa podem ser eliminados. A frequência destas revisões pode variar bastante, mas devem ser feitas pelo menos a cada trimestre.

 

Para ajudar a construir e gerir o portfolio existem várias ferramentas gráficas, apesar de muitas empresas utilizarem folhas de cálculo como o Excel para este fim [17].

 

Imagem 1 : exemplo de aplicação de Portfolio Management [fonte: http://www.odyssey-group.com/pages/BusSolns_TA.htm]

 

 

IT Balanced Scorecard

 

O Balanced Scorecard surgiu nos anos 90 como um sistema de gestão que sugere que olhemos para a organização sob 4 perspectivas, que desenvolvamos métricas, recolhamos informação e façamos uma análise desta em relação a essas perspectivas [18]. O IT Balanced Scorecard é um modelo aplicado às TI e à maneira como estas contribuem para o valor da empresa.

 

Imagem 2 e 3 – exemplos de aplicações de Balanced Scorecard [fonte: http://www.strategy2act.com/solutions/strategy-and-scorecard-reports/reports.htm e http://www.competitive-solutions.net/]

 

As perspectivas mencionadas referem-se às perspectivas:

 

•  Financeira: esta perspectiva engloba os objectivos financeiros e estratégicos da empresa [19][20]. Estes podem ser a missão da empresa, a análise e gestão de portfolios, a performance financeira e dos investimentos e a utilização de recursos pelas TI [20].

 

•  Cliente: nesta perspectiva é avaliada a capacidade da empresa fornecer serviços de qualidade aos clientes [19]. Assim, é analisado o impacto das TI na relação com os clientes, principalmente no que diz respeito à satisfação destes, como forma de avaliar a qualidade e performance de custos dos produtos e serviços de TI da empresa [20].

 

•  Aprendizagem e crescimento: aqui são analisados os SI, os trabalhadores da empresa e a cultura organizacional em termos de competência presente e capacidade de adaptação ao futuro, o que é particularmente importante numa perspectiva de investimento em novas tecnologias ou reformulação de estratégias [18]. Outro objectivo a ser avaliado é a satisfação dos empregados com a tecnologia que têm ao seu dispor [20].

 

•  Processos internos: nesta perspectiva é avaliada a eficiência dos processos que governam as TI dentro da empresa [20] e se os produtos e serviços estão conforme o estipulado pela missão [18]. Aqui interessa avaliar os processos envolvidos em situações tais como a criação e manutenção das aplicações, a criação de projectos da empresa, a disponibilidade da infra-estrutura de TI e o cumprimento de standards .

 

A performance das TI face a cada um dos objectivos de cada perspectiva é avaliada por métricas associadas a estes. Como acontecia nos métodos anteriormente analisados, cada empresa tem que decidir quais são as métricas que melhor se ajustam ao seu caso. Em [21] é possível ler que o Balanced Scorecard não é um “livro de receitas de métricas de performance”. A mesma fonte afirma que é necessário que os encarregados da criação do Balanced Scorecard tenham uma “linha de pensamento estratégico criativa” e sejam capazes de tomar “decisões difíceis”. Também necessita de bastante tempo e trabalho, bem como apoio da hierarquia de topo, para ser implementado, o que constitui a sua principal desvantagem [21]

 

Numa perspectiva de análise de investimento, o IT Balanced Scorecard é uma ferramenta bastante interessante, porque considera o impacto nos processos internos e nos empregados, além da normal análise financeira e da análise de impacto nos clientes, já presente no Portfolio Management.

 

 

Investir nos 64 bits

 

A questão aqui não é saber se o investimento deve ou não ser feito – os 64 bits vão tornar-se o novo standard , portanto o investimento tem que existir. A questão é saber quando é que deve ser feito: agora, no próximo ano, daqui a 2, 3, 4 anos?

 

Como foi possível ver na primeira parte deste artigo, esta migração dos 32 para os 64 bits não está a ser feita de uma maneira brusca. A Intel tentou impor uma nova arquitectura e acabou por adoptar um método de migração mais gradual desenvolvido pela rival AMD. Apesar disso, a Intel e a AMD vão deixar de produzir processadores de 32 bits para servidores no próximo ano [22], o que deixa pouca margem de manobra para quem quiser comprar servidores novos.

 

Para suportar estes sistemas e as aplicações desenvolvidas especificamente para eles será necessário um sistema operativo de 64 bits. Já existem versões de Linux de 64 bits bem como versões do Windows XP e Windows Server 2003. Bill Gates afirma, numa entrevista à InformationWeek [22], que se as aplicações actuais continuarem a funcionar a toda a velocidade nos sistemas com SOs de 32 bits, os departamentos de TI não vêm grande vantagem em fazer o upgrade para um dos novos SOs. as aplicações de 32 bits podem beneficiar do espaço extra na memória [23] e, como já foi referido no início do artigo, existem muitas aplicações que tiram grande partido dos processadores de 64 bits. Mas existe uma grande desvantagem em fazer esta mudança demasiado cedo: os drivers ; Os drivers de 32 bits são incompatíveis com os sistemas operativos de 64 bits e nem todos os fabricantes de hardware têm as versões de 64 bits prontas ou estáveis. Mais, as versões de 64 bits do Windows deixam de suportar o DOS, aplicações de Posix e de 16 bits, bem como alguns protocolos de rede mais antigos [24], o que põe a questão do upgrade de parte para alguns sistemas.

 

Mas, continua Bill Gates, num futuro próximo, que pode ser daqui a 5 ou 6 anos, em que muitas aplicações vão passar a ser totalmente de 64 bits, e aí já não há volta a dar: o sistema operativo tem que ser de 64 bits. A próxima versão do Windows, o Windows Vista, vai ter disponível uma versão 32 bits e outra de 64 bits, mas não está previsto que tal aconteça com o seu sucessor.

 

Os custos do investimento nos 64 bits centram-se, portanto, mais em questões de software que de hardware. Será que a base de dados beneficia do aumento de memória? Os programas vão correr à mesma velocidade que antes? Será que existem problemas de compatibilidade entre as aplicações de 32 bits e o SO de 64 bits? Este tipo de questões pode influenciar o funcionamento duma organização para o bem e para o mal. Estas e muitas outras podem ser respondidas através de uma análise cuidada utilizando as técnicas discutidas neste artigo. O ROV, por exemplo, pode ser muito útil neste caso, já que prepara os gestores para os vários cenários possíveis, minimizando o risco de um investimento potencialmente arriscado como este; o Portfolio Management, como método de alinhar as TI com os objectivos de negócio da empresa, também pode ajudar a decidir se a migração é ou não algo prioritário; o IT Balanced Scorecard analisa vários aspectos internos da organização e, como consequência, o impacto de um investimento destes na sua estrutura, quer humana quer tecnológica. E também há o ROI, como parte integrante e valiosa de todos estes métodos.

 

Conclusões

O artigo tinha como objectivo levantar algumas questões sobre a forma como os investimentos nos novos processadores e sistemas operativos de 64 bits são/serão feitos e introduzir o leitor a alguns métodos de análise de investimentos que são pertinentes para este problema.

Ficou demonstrado que os sistemas de 64 bits são o futuro e que as empresas se devem preparar para eles. Já a altura da migração é algo que varia de empresa para empresa e que tem que ser bem analisado. Para tal existem vários métodos, dos quais foram descritos 4. Destes, o ROI é o menos completo mas é utilizado como ferramenta em todos os outros. Já o IT Balanced Scorecard é bastante completo e analisa o impacto dos investimentos sob vários pontos. Penso que a importância da análise dos investimentos de TI nas organizações ficou bem patente, bem como as diferenças entre os vários métodos existentes.

 

Referências

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