Portugal na Internet

 

por

 

Manuel Jorge Brandão Estêvão de Araújo

Departamento de Engenharia Informática

Universidade de Coimbra

3030 Coimbra, Portugal

maraujo@student.dei.uc.pt

 

 

Palavras chave: Internet, Portugal, ISP, acessos, alojamento, hosting, conteúdos

 

 

Resumo

 

Portugal dispõe de vários tipos de acesso à Internet, nomeadamente acesso por modem, RDIS, ADSL e cabo. Os três primeiros são feitos pela linha telefónica, o último pela rede de televisão por cabo. É difícil classificar a qualidade destes serviços mas, apesar de certos utilizadores se queixarem dos mais variados aspectos, o facto é de que no geral o serviço prestado não é de todo mau. A grande questão surge aquando da comparação com os serviços prestados pelos fornecedores de acesso no estrangeiro: a relação preço/velocidade é, na maioria dos casos, semelhante, mas as outras características das ligações (tais como mais espaço disponível para a página pessoal ou inexistência de limites de tráfego) mostram que os ISPs portugueses ainda têm um longo caminho a percorrer.

Em termos de alojamento de sites, Portugal não se fica atrás dos outros países. Tirando o alojamento grátis – aspecto em que o nosso país se encontra claramente subdesenvolvido, já que existe apenas 1 site que oferece esse tipo de serviço – os serviços de hosting disponíveis em Portugal são de muito bom nível, quer em termos de preço, como em termos de características dos servidores.

Quanto aos conteúdos disponíveis na Internet portuguesa, esta realidade tem vindo a evoluir muito favoravelmente nos últimos anos. A qualidade e a quantidade variam consoante o tipo de informação desejada, mas no geral não existem muitas razões de queixa.

 

Introdução

 

A história do acesso generalizado à Internet em Portugal começa em 1995, com o aparecimento do kit Telepac, da Portugal Telecom (PT). Antes disso o acesso era quase que exclusivo às Universidades. Logo a seguir apareceram outros ISPs (Internet Service Providers), como a Esotérica e a IP. Mais tarde, com a liberalização das telecomunicações, veio o “acesso grátis” (sem mensalidades) e apareceram ISPs baseados nas novas empresas de telecomunicações, como o Clix, a Oninet e outros. Nesta altura, o acesso era feito maioritariamente por modem ou RDIS. Por volta desta altura, já a televisão por cabo se estabeleceu em Portugal e aparece a NetCabo, o primeiro ISP a oferecer acesso à Internet em banda larga. O acesso por cabo começa a espalhar-se lentamente pelo país, e surgem outros ISPs deste tipo, como por exemplo a Netvisão. Mais recentemente surge o ADSL ou Asymmetric Digital Subscriber Line, uma tecnologia que permite o acesso à Internet a velocidades tão ou mais altas que as proporcionadas pelo cabo.

 

Mas qual é o estado do acesso à Internet em Portugal quando comparado com a situação de outros países da União Europeia? Será que temos um serviço de qualidade? E em termos de conteúdos e web hosting, como nos situamos? É a essas perguntas que este artigo vai tentar responder, concentrando-se primeiro nas questões da diversidade e qualidade do acesso. A seguir, é feita uma análise ao alojamento de sites em Portugal (entenda-se isto por alojamento em hosts portugueses) e à quantidade e qualidade dos conteúdos da “nossa” Internet.

 

 

1- Acessos

 

1.1- Que produtos existem em Portugal?

 

Os pacotes de acesso à Internet existentes no nosso país dividem-se em 4 grupos: modem, RDIS, ADSL e cabo. Os três primeiros são feitos através das linhas telefónicas enquanto que o acesso por cabo necessita, como o próprio nome indica, de uma ligação à rede de televisão por cabo. O acesso por modem é o mais lento e não permite a utilização do telefone ao mesmo tempo, mas é o mais generalizado e não precisa de configurações demasiado específicas na linha telefónica; o RDIS permite sensivelmente o dobro da velocidade do acesso por modem mas precisa de uma linha telefónica digital para funcionar; a ADSL e o cabo são os mais rápidos e os dois oferecem velocidades quase equivalentes, mas estas duas ligações têm uma limitação a nível geográfico (a ADSL só funciona num dado raio entre a central telefónica e o utilizador, e o cabo tem as limitações já referidas). De todas estas ligações, as 2 últimas ainda apresentam (na sua maioria) um limite mensal de tráfego.

 

A tabela seguinte mostra as diferenças em termos de preço e velocidade entre estas ligações (apenas nas destinadas ao utilizador comum):

 

TIPO DE ACESSO

VELOCIDADE

PREÇO

Modem

Máximo de 56 Kb/s.

Existem alguns ISPs que cobram mensalidades, ao que acresce o custo de uma chamada local, mas a maior parte pratica o chamado “acesso grátis”, sem mensalidades.

RDIS

64 ou 128 Kb/s, dependendo do serviço pretendido.

O mesmo que o acesso por modem. O serviço de 128 kb/s custa o dobro que o de 64 kb/s, porque se fazem duas ligações telefónicas quando o utilizador se liga à Internet.

ADSL

De 256 a 600 Kb/s.

Uma mensalidade que varia entre os 26,50 e os 65 €, dependendo do ISP e do produto, a que se deve acrescentar na maioria dos casos uma taxa no caso de se ultrapassarem os limites de download e uma taxa de activação do serviço.

Cabo

De 128 Kb/s a 640 Kb/s.

Uma mensalidade que varia entre os 29 e os 46 €, dependendo do ISP e do produto, a que se deve acrescentar na maioria dos casos uma taxa no caso de se ultrapassarem os limites de download.

 

Alguns produtos não têm mensalidade, mas sim um custo de ligação por tempo, semelhante aos acessos por modem e RDIS.

 

1.2 – E qual é a qualidade do serviço?

 

Este aspecto, como é claro, é muito subjectivo. De uma maneira geral, não se pode dizer que a qualidade dos serviços prestados pelos ISPs nacionais seja má, mas também é verdade que poderia ser melhor: muita gente se queixa de falhas de ligação, velocidades de acesso inferiores às esperadas e principalmente de incompetência no apoio ao cliente. No site MalServido.com, no qual as pessoas podem escrever as suas queixas sobre os mais variados serviços, a 2ª empresa de quem as pessoas registadas têm mais queixas é a NetCabo (a 1ª é, curiosamente, a TV Cabo) e o ramo do qual existem mais queixas é o da Internet/Informática.

 

1.3 – Como é que estes produtos se comparam com os dos outros países?

 

Uma das grandes diferenças para com os serviços prestados por outros ISPs europeus (na vizinha Espanha, por exemplo) é a existência de uma tarifa plana. Deste modo o cliente não paga pelo tempo que está ligado, mas sim uma mensalidade fixa consoante o tipo de ligação e a velocidade dessa ligação. Há alguns anos o Governo português tentou instituir esta tarifa no acesso por modem, o que certamente iria diminuir as contas telefónicas de muita gente, mas devido a desentendimentos entre as operadoras telefónicas e a entidade reguladora das telecomunicações em Portugal, esse projecto nunca chegou a ir para a frente.

 

Mas no que diz respeito aos preços, esses variam muito. Em tipos de ligação e velocidades iguais – e com ofertas de contas de e-mail e espaço de alojamento semelhantes, mas com vantagem para os ISPs estrangeiros – a diferença pode ir de apenas alguns euros a várias dezenas. No geral, pode-se dizer que os preços praticados em Portugal não são muito diferentes dos praticados no estrangeiro.

 

Mas é aqui que entra o calcanhar de Aquiles dos ISPs nacionais: os limites de tráfego. No nosso país os limites de tráfego na ADSL e no cabo para o utilizador comum variam entre 1 e 4 GB de tráfego internacional e os 40 GB e ilimitado para tráfego nacional. Ora, nos outros países da UE a maior parte dos fornecedores de acesso não impõem limites de tráfego aos seus utilizadores! Tendo em conta a semelhança dos preços, pode-se dizer que o internauta português está em desvantagem em relação aos seus companheiros europeus. Uma possível razão para este fenómeno é o facto de a PT ter o monopólio sobre a rede telefónica (e também sobre a oferta da Internet por cabo), o que faz com que os outros operadores tenham que lhe pagar uma taxa para a poderem utilizar. Assiste-se assim a uma diminuição da margem de lucro destes operadores e a uma concorrência que se pode dizer desleal no segmento de mercado de acesso à Internet por linha telefónica. Por estas e por outras razões, alguns operadores já ameaçaram mesmo desistir do segmento de mercado das ligações ADSL. Ainda assim, parece-me justo dizer que é no mínimo duvidoso que a rede actualmente disponível em Portugal conseguisse aguentar tráfego ilimitado em todos os produtos disponíveis, sem que houvesse uma notável degradação no serviço.

 

 

2- Web Hosting

 

2.1- Que serviços de web hosting existem em Portugal?

 

Um dos serviços mais conhecidos nesta área em Portugal é, sem dúvida, o Terravista. O Terravista foi criado em 1997 pelo governo português para oferecer alojamento de sites gratuito a todos os portugueses, sendo agora gerido por um grupo privado. O serviço continua a ser gratuito, e oferece 12 MB de espaço para páginas pessoais, muito mais que os 2 MB que eram disponibilizados no seu início. Mas, exceptuando o espaço para as homepages oferecido pelos ISPs aos seus clientes (que muitas vezes é partilhado com o espaço das caixas de email) e com o serviço de homepages grátis do Sapo a passar a ser exclusivo a clientes dos Acessos SAPO, este é o único site na Internet portuguesa a oferecer alojamento grátis para páginas pessoais.

 

Já em termos de serviços pagos, o caso muda de figura: a oferta é muito variada em termos de espaço disponível, funcionalidades, largura de banda e preços. O espaço disponível nestes servidores vai dos 5 MB ao ilimitado; muitos deles oferecem o registo de domínio, suporte de base de dados e de tecnologias relacionadas (ASP, PHP, etc.), contas de email, webmail, estatísticas diárias, etc.;  largura de banda mensal a partir de 100 MB e preços que podem ser considerados acessíveis (entre 6 e 60 €/mês, consoante o espaço desejado).

 

É interessante referir que nem todos os sites portugueses que oferecem alojamento pago estão hospedados em servidores localizados no nosso país…

 

2.2 – Como é que estes serviços se comparam com os oferecidos em outros países?

 

No que diz respeito ao alojamento pago, as características do alojamento, bem como os preços, são semelhantes aos oferecidos noutros países.

 

Quanto ao hosting grátis… Bem, digamos que a oferta em Portugal não permite uma comparação justa. Muitas páginas pessoais portuguesas estão hospedadas em hosts grátis brasileiros (kit.net), franceses (Multimania), ou ingleses (Lycos.co.uk), ou em sites tão conhecidos como a Geocities (que tem uma versão em português, mas do Brasil) ou a Angelfire, que oferecem mais espaço para as páginas que os serviços grátis disponíveis em Portugal (em certos casos, 10 vezes mais).

 

 

3- Conteúdos

 

Este é um aspecto de qual os portugueses cada vez se podem queixar menos, já que a situação tem vindo a evoluir favoravelmente nos últimos anos. No que diz respeito a informação, todos os jornais diários, canais de televisão e os denominados “portais” (Sapo, Clix, etc.) mantêm um site constantemente actualizado com as últimas notícias; sites como a ZDNet Portugal oferecem notícias sobre tecnologia e o GameOver e o Gamespot.pt têm as últimas novidades sobre jogos (se bem que o último peque pela falta de actualizações). Quanto a informação sobre assuntos mais específicos, menos comuns no nosso país ou de aspecto mais alternativo, existem vários sites de menor dimensão ou mesmo e-zines (adaptação do termo fanzine para a Internet) tais como a Rua de Baixo (e-zine cultural) ou a NIJI.zine (e-zine de anime/manga) para colmatar a falta de atenção a certos assuntos pelos sites noticiosos mais generalistas – um pouco como certas estações de rádio ou canais de televisão. O único problema destes sites mais pequenos é a falta de actualizações regulares, já que a informação costuma ser bastante completa.

 

Os sites de entretenimento e lazer também são comuns na Internet portuguesa. Desde os sites humorísticos como o Portugal no seu melhor ou O Mangalho Anti-Stress aos jogos online na War-Zone ou no Jogo Virtual, existem sites para os gostos de cada um.

 

As compras online também tém o seu espaço, apesar de este segmento não estar tão desenvolvido como noutros países. Os portais da Internet, como os já referidos Sapo e Clix, têm secções dedicadas às vendas na Internet e existem sites especializados em certos produtos, como por exemplo os DVDs (BluePlanet DVD) ou o material informático (Chip7, Nuno & Candeias Lda.). Só que como eu referi, este é um mercado ainda em desenvolvimento, e nem sempre as coisas correm bem. O Pingo Doce, por exemplo, suspendeu os seus serviços de compras online em Julho de 2003 devido à fraca afluência que este tinha.

 

O Governo tem a sua presença assegurada na net, com os vários ministérios a ter cada um o seu site. No geral a informação disponível nestes sites deixa um pouco a desejar, mas isto varia de ministério para ministério.

Uma referência para o site do Ministério da Educação, cujo servidor deveria ser redimensionado para aguentar as dezenas de milhar de acessos de que é alvo aquando da saída dos resultados dos concursos dos professores do ensino básico, já que há sempre muitas queixas todos os anos quanto a problemas de DOS (Denial Of Service). Esses problemas também afectam outros sites onde essa informação é posta à disposição (nomeadamente o Educare), mas esses não têm propriamente a obrigação de a disponibilizar.

 

Algumas secções de certos sites só estão disponíveis para subscritores de serviços providenciados por esses sites, ou por sites relacionados. Existem vários exemplos destas situações, uma delas é o facto de no site da TVI todos os conteúdos que são mostrados na página principal, serem exclusivos para utilizadores do acesso IOL à Internet entre as 20 e as 8 h. Estes conteúdos incluem as notícias e a programação do canal (!).

 

Para terminar, os popups publicitários. Estes não eram muito comuns em sites de média/grande dimensão até há perto de um, dois anos atrás. Agora, eles aparecem na maioria dos portais, e vão desde animações flash que aparecem logo que se chega ao site, às múltiplas janelas que saltam a cada clique do rato.

 

 

Conclusões

 

Acessos

 

O acesso à Internet cresceu muito nos últimos anos em Portugal. A oferta passou dos agora quase que ultrapassados modems de 56K para a ADSL e cabo. Mas essa oferta não está tão desenvolvida como nos outros países da União Europeia, principalmente no que diz respeito à diversidade e às características do serviço: um estudo recente coloca Portugal à frente de Espanha em termos de percentagem de lares ligados à Internet, mas existem mais de 30 ISPs em Espanha e pouco mais de 10 em Portugal; não são impostos limites de tráfego no acesso por cabo ou ADSL em quase todos os ISPs estrangeiros, mas não é o que acontece no nosso país.

 

Web Hosting

 

O alojamento pago em Portugal está ao nível do que é oferecido no estrangeiro: os preços e as características do alojamento, apesar de flutuarem bastante, são em tudo semelhantes aos hosts dos outros países. O mesmo não pode ser dito dos hosts grátis. Ou melhor, do host grátis: tirando o espaço oferecido pelos ISPs, Portugal só tem um site para alojar páginas pessoais sem que seja preciso pagar por isso, e o espaço disponível está abaixo do oferecido em sites estrangeiros. Isso leva a uma “migração” de vários sites portugueses para servidores gratuitos brasileiros, americanos, espanhóis, franceses, …

 

Conteúdos

 

O nível de qualidade dos sites nacionais tem sabido acompanhar o crescimento da Internet em Portugal. Desde sites de carácter informativo aos mais virados para o lazer, passando pelas compras online, existem páginas para todos os gostos e feitios; excepto casos pontuais ou em sites mais pequenos, as actualizações são feitas regularmente. Em suma, a realidade portuguesa não está muito longe da que se verifica nos outros países – tendo em conta, é claro, o tamanho de Portugal, bem como a cultura do nosso país, já que certos assuntos têm pouca cobertura por cá.

 

 

Referências

 

Renato N. Pereira, Breve História da Internet

http://w3.ualg.pt/~rnper/introinfo/conteudos/02_ie/conteudos%5C02.htm

 

ZDNet Portugal (2003/08/07), Portugal tem mais utilizadores de Internet que Espanha

http://zdnn.zdnet.pt/noticias/-nivel3?n=6168&s=1

 

PCGuia (7/03), Banda Larga – do atalho à auto-estrada, PCGuia nº 92, pp 77-85

 

Telepac, http://www.telepac.pt

 

SAPO, http://www.sapo.pt

 

Clix, http://www.clix.pt

 

Oninet, http://www.oninet.pt

 

IOL, http://www.iol.pt

 

Jazztel, http://www.jazztel.pt

 

VIA net.works, http://www.vianetworks.pt

 

NetCabo, http://www.netcabo.pt

 

Netvisão, http://www.netvisao.pt

 

teltarifas.com, http://www.teltarifas.com

 

ADSLGuide, http://www.adslguide.org.uk

 

Terravista, http://www.terravista.pt

 

Alojamentos.com, http://www.alojamentos.com

 

FreeWebspace.net, http://www.freewebspace.net

 

MaxMind GeoIP, http://www.maxmind.com/geoip

 

Super DNS Lookup Gateway, http://cgibin.erols.com/ziring/cgi-bin/nsgate/gate.pl