COMO DELEGAR RESPONSABILIDADES

por

Catarina Simões

Departamento de Engenharia Informática

Universidade de Coimbra

Maio de 2001

Resumo - Mostra-se, de forma sucinta, os principais aspectos a ter em conta para conseguir uma delegação de funções e responsabilidades eficaz. Pensa-se que esta abordagem constituirá um bom auxiliar para os futuros engenheiros que venham a ser reportados para cargos de gestão ou de chefia, bem como para os profissionais da gestão que ainda não estejam familiarizados com esta técnica.

INTRODUÇÃO

Como futuros Engenheiros, temos de considerar a hipótese de chegarmos um dia a um cargo de chefia numa organização. Mesmo não considerando vir a ser gestor, certamente que ao longo da nossa actividade teremos de chefiar, por exemplo, uma equipa de projecto composta por vários elementos. Como o grosso da formação dos engenheiros tem uma vertente técnica, teremos a tendência de tentar fazer tudo sozinhos. Este problema também se coloca a gestores mais experientes que desconhecem ou receiam aplicar a delegação de funções. O presente texto pretende explicar os benefícios da delegação de tarefas, enquanto técnica essencial de gestão, para benefício de todas as pessoa envolvidas no processo.

COMPREENDA A DELEGAÇÃO

Definição geral

Delegar com eficácia é uma técnica empresarial essencial. Para alcançar os melhores resultados é preciso estar consciente dos seus benefícios e dos obstáculos que dificultam o seu sucesso. Em linhas gerais, a delegação consiste em encarregar outra pessoa de uma tarefa pela qual quem delega fica como último responsável. Podemos falar, por exemplo, da delegação da liderança de um projecto ou da delegação de pequenas tarefas quotidianas de uma organização. Os assuntos fundamentais da delegação são a autonomia e o controlo. Ao delegar uma tarefa, você deve esperar que o seu delegado seja capaz de exercer autoridade, dentro do possível, sem se reportar a quem delega. Por outro lado, o trabalho do seu delegado tem de ser controlado e supervisionado.

Depois de nomear um delegado, deve dar-lhe autonomia para que ele leve a cabo a tarefa delegada à sua maneira embora sujeito a instruções iniciais e relatórios regulares sobre a evolução da tarefa.

O processo

O processo de delegação é inerente ao papel do gestor. O processo inicia-se com a análise das tarefas e dos parâmetros de cada uma. Isto deve ajudar a nomear um delegado adequado e a fornecer instruções pormenorizadas. A vigilância da evolução do trabalho é essencial mas deve ser usada para controlar e não para interferir. Por último deve ser avaliado o desempenho do delegado e quais as alterações a ser feitas de ambos os lados.

ETAPAS:

      

Porquê delegar

Os gestores costumam afirmar que as exigências a curto prazo das tarefas operacionais e de importância inferior impossibilitam a dedicação de tempo a tarefas mais importantes e a longo prazo.

Isto é, o planeamento estratégico da organização, o controlo global e a formação ficam de certo modo postos de parte pelos gestores que se ocupam diariamente com tarefas menores.

Para obter mais tempo para si e para as tarefas importantes, o gestor tem de delegar as tarefas menores que podem ser feitas por outras pessoas. Deste modo, o pessoal torna-se também mais experiente e motivado. A delegação eficaz transmite ao delegado um maior sentido de responsabilidade que se traduz num sentimento de valorização e satisfação. Os funcionários terão um melhor desempenho num ambiente estruturado, onde se saiba quais os deveres e responsabilidades de cada um, e onde lhes sejam atribuídas tarefas que ampliem as suas capacidades.

Os obstáculos

Como tudo na vida, a delegação de tarefas tem os seus custos e obstáculos. Os gestores mostram-se por vezes relutantes em relação à delegação, baseados em sentimentos de desconfiança e insegurança. Provavelmente, um gestor é mais rápido e eficiente a desempenhar uma determinada tarefa do que o seu pessoal. Mas ao tentar abraçar todas as tarefas por essa razão, irá sentir-se sobrecarregado. Assim, não terá tempo para se dedicar às tarefas que lhe são específicas e que mais ninguém pode realizar, para além de que o pessoal não pode tornar-se mais eficiente se não lhe for dada a oportunidade de aprender e executar mais tarefas.

O receio de sobrecarregar o pessoal também é um argumento usado pelos gestores para adiar as tarefas e realiza-las eles mesmos. Quando o pessoal parece estar no limite das suas capacidades deve ser motivado a analisar a distribuição que faz do tempo e a capacidade de realizar mais trabalho. Por vezes a solução passa mesmo pela contratação de mais pessoal.

A ideia da perda de controlo é também um motivo de insegurança para o gestor. Embora a delegação apenas provoque um perda do controlo directo, uma vez que a responsabilidade da realização da tarefa passa para o delegado, este facto é um potencial obstáculo. No entanto, quem delega retém a responsabilidade e o controlo globais nomeando o delegado, dando instruções sobre a evolução da tarefa e trocando reacções regulares.

Um outro obstáculo reside na agenda apertada do gestor. Planear a agenda diária e semanal é uma prioridade para a delegação de funções de modo a evitar um ciclo vicioso. Se você tiver uma agenda sobrecarregada e desorganizada não terá tempo para delegar e acompanhar os seus delegados, portanto estará sempre ocupado com tarefas que poderiam ter sido delegadas, o que significa falta de tempo para delegar e assim sucessivamente.

A delegação demora tempo a organizar, mas os custos a não fazer são elevados. Um gestor que evita a delegação não pode estar à espera de completar com eficácia todas as tarefas que se encontram na sua secretária.

O relacionamento

A franqueza, a sinceridade e a comunicação são as bases para um delegação bem sucedida. Seja leal com o pessoal e ele também o será consigo. Para ser um bom comunicador, exprima as suas ideias claramente e desenvolva a sua capacidade de escutar, tendo em vista levar os outros a partilharem as suas ideias e opiniões consigo. Deixe claro ao seu pessoal que espera que lhe dêem opiniões honestas sobre o seu estilo de delegação de funções. Quanto mais perceberem que têm uma responsabilidade real e que não serão subestimados, melhor desempenho terão os seus subordinados .

DELEGUE COM EFICÁCIA

Seleccionar tarefas

O primeiro passo na delegação de funções é decidir quais as tarefas que podem e devem ser delegadas e quais as que é necessário manter ao seu cargo. Comece esta análise mantendo uma agenda pormenorizada durante duas semanas, no mínimo. Anote todas as suas actividades e o tempo que demoram. Provavelmente descobrirá que passou a maior parte do tempo ocupado com actividades que poderiam ter sido delegadas. Analise de seguida as tarefas, dividindo-as nos seguintes grupos:

AVALIAR AS ACTIVIDADES:

   

Utilize esta divisão como base para reduzir as actividades desnecessárias e concentrar-se apenas nas que só podem ser feitas por si. Obtida a lista das tarefas a delegar há que ter em conta se existe um número suficiente de delegados qualificados e se a delegação é aprovada pelos seus próprios superiores. A lista de tarefas a delegar irá certamente conter actividades relacionadas entre si, que devem ser agrupadas por temas específicos.

Depois, pode considerar a delegação de cada grupo de tarefas a uma pessoa, fazendo uso das competências e gostos de cada subordinado. A etapa seguinte é estabelecer prioridades. A primeira preocupação deve ser distribuir as tarefas que decidiu delegar. Depois preocupe-se com as que deixou para você mesmo resolver, de acordo com as importância das tarefas. A seu cargo, enquanto gestor, devem ficar as tarefas relacionadas com os seguintes tópicos:

-          Liderança - administrar um projecto ou organização e impulsionar o grupo para o sucesso.

-          Recompensa - estabelecer parâmetros para salários e esquemas de bónus.

-          Controlo- atingir um desempenho mais favorável.

-          Pessoal - controlar os recursos humanos e a disciplina.

-          Estratégia - estabelecer metas-chave e os meios para as atingir.

-          Comunicações - assegurar a transferência interna de informações de forma eficiente.

-          Resultados - avaliação dos resultados e aplicação das lições aprendidas ao longo do tempo.

Estas tarefas têm temas em comum que se centram em ir ao encontro dos objectivos estratégicos da organização, da sua equipa e de si próprio como gestor.

Planear a estrutura

A delegação é uma partilha planeada de responsabilidade que requer uma estruturação cuidadosa. Depois de decidir quais as tarefas a delegar e a manter, defina uma estrutura e um plano global para todas as delegações. A prioridade é assegurar que a estrutura da organização seja estável e resistente a imprevistos. Para isto, garanta que cada delegado possa ter apoio e assistência suficientes para quando surgirem problemas. Informe os seus delegados desta estrutura de apoio para que cada um deles saiba onde procurar ajuda em caso de crise. Lembre-se que é da sua responsabilidade garantir que esta estrutura permaneça estável e eficaz.

Pensar as tarefas

Para que a delegação tenha sucesso, é necessário definir as tarefas e ter um boa compreensão das capacidades dos delegados. Para cada tarefa do plano de delegação, faça um lista das capacidades e responsabilidades exigidas pela mesma. Considere também, cuidadosamente, as qualidades dos membros da sua equipa. Assim poderá concluir quais as funções que mais se adequam a cada indivíduo, considerando as suas fraquezas e pontos fortes. Quando estiver a fazer planos de delegação com antecedência, considere quais as capacidades que os funcionários necessitam aprender ou desenvolver para um melhor desempenho. Se optar por fazer formação específica, estará a fornecer aos delegados os conhecimentos necessários, ao mesmo tempo que estará a motivá-los e a dar-lhes autoconfiança através de um investimento nos seus futuros.

   

Escolher a pessoa certa para uma dada tarefa é essencial, mas requer uma avaliação cuidadosa da experiência e habilitações do candidato a delegado. Além disso, diferentes tipos de tarefa requerem diferentes tipos de aptidões e capacidades. Nas primeiras vezes será um caso de tentativa e erro, mas com o tempo você aprenderá a avaliar mais correctamente as pessoa necessária para cada situação. O candidato ideal para uma tarefa pode não existir pelo que terá de optar pelo que mais se aproxima do perfil necessário. Mas não esqueça  que uma delegação de funções pode também ser usada para formar e desenvolver as capacidades de um bom funcionário, com vista a uma futura promoção.

Preparar o resumo das instruções

O passo seguinte é preparar um resumo das instruções. Comece por definir o seu objectivo e elabore uma lista completa de todos os aspectos individuais de uma tarefa. A delegação de funções deve ser baseada nos tópicos individuais da tarefa, nomeando a pessoa responsável por cada um deles e evitando sobreposições de responsabilidade. Mantenha os objectivos o mais claros e concisos possível e baseie-os nos resultados desejados. As instruções devem ser estruturadas como se segue:

-          Objectivos - definição da tarefa enumerando os objectivos principais e secundários.

-          Recursos - especificação do que está disponível em questões de pessoal, financeiras, instalações, ou do que é preciso ainda obter.

-          Calendarização - estabelecimento da agenda com os pontos de revisão, datas de conclusão de etapas e prazos finais.

-          Método - descrição dos procedimentos e resumo dos pontos chave.

-          Níveis de autoridade - especificação da margem de autoridade do delegado e a quem ele se deve reportar.

Não considere as suas instruções como um caminho rígido a seguir mas como uma estrutura dentro da qual o delegado pode usar alguma flexibilidade. Seja flexível quanto ao cumprimento das instruções no que diz respeito à decisão dos procedimentos a utilizar. Assegure-se de que o delegado compreende as instruções e concorda com elas. Permita que ele faça comentários e dê sugestões.

Obter o acordo de princípio

Antes de finalizar as instruções, deve obter um acordo de princípio com o delegado escolhido. Este acordo implica obrigações de ambos os lados: você deve motivar o delegado e confirmar a sua aptidão para a tarefa e o delegado tem de compreender as instruções e considerar se é capaz de realizar a tarefa.

OBTER ACORDO:

 

Se o candidato se mostrar relutante em aceitar a tarefa, tente descobrir quais são os verdadeiros motivos. Apresente-lhe a tarefa como uma oportunidade de desenvolver capacidades e criar experiência, colocando-o num papel de parceiro em vez de subordinado. Clarifique sempre o apoio com que ele pode contar. Se não conseguir ultrapassar a relutância, não force uma aceitação e procure outra pessoa.

Instruir com eficácia

Depois de obtido o acordo de princípio, aperfeiçoe as instruções e marque uma reunião para as transmitir.

Comunique ao delegado todas as instruções pormenorizadamente e assegure-se que ele compreende completamente a função. Assegure-se também que o delegado percebe o âmbito da autoridade que lhe cabe, e que se espera que ele use da sua própria iniciativa sempre que for apropriado. Agradeça-lhe por ter aceite a proposta e transmita-lhe a sua confiança em que tudo correrá bem.

ACOMPANHE O DESENVOLVIMENTO

Para que a delegação de funções tenha sucesso, é necessário ter um sistema de acompanhamento eficaz de modo a poder controlar os delegados e a evolução das tarefas. O nível de experiência dos delegados irá ajudá-lo a optar por uma abordagem com acompanhamento ou por uma abordagem sem interferência. Uma pessoa sem experiência vai necessitar de uma maior supervisão. O processo de acompanhamento é também uma oportunidade de avaliar as capacidades de um delegado e de lhe fornecer formação técnica específica. O gestor deve mentalizar-se que nem todas as pessoas trabalham da mesma maneira e deve resistir à tentação de intervir sempre que a tarefa não esteja a ser executada à sua maneira. Deve manter um sistema de supervisão através de reuniões e relatórios regulares para garantir o cumprimento dos objectivos da tarefa e tomar acções correctivas se for necessário, mas intervenha apenas quando for estritamente necessário que o faça. Incentive os seus delegados a tomar as suas próprias decisões e passe de uma abordagem de acompanhamento para uma sem interferência o mais depressa possível. No entanto tenha em atenção que existem tarefas de alto risco que requerem um acompanhamento mais cuidadoso. As reuniões de supervisão devem ser marcadas antes de o delegado começar a tarefa e o gestor deve ser firme em relação ao cumprimento de prazos. No entanto, deve também deixar bem claro que se encontra disponível entre as datas das reuniões para prestar ajuda ao delegado se necessário. Nunca recuse um pedido de um delegado para fazer uma reunião, mas deixe claro que o objectivo é a gestão autónoma. Tente evitar que os delegados vão ter consigo com um problema antes de terem reflectido sobre ele. Insista para que ao levarem um problema levem também soluções para ele. Deste modo eles habituar-se-ão a encontrar as soluções sozinhos.

Avaliar o desempenho

Quando a tarefa for concluída, deve haver uma reunião com o delegado para reconhecer e analisar o trabalho desenvolvido e discutir problemas e soluções.

Verifique se o delegado teve algum problemas relacionado com as instruções iniciais, se os recursos designados para a tarefa eram adequados e se foi necessário tomar medidas drásticas em resultado de um mau desempenho do delegado. Quer sejam encontrados problemas ou não, discuta com o delegado se haverá alguma alteração a ser feita para melhorar o desempenho no futuro. Um gestor eficiente deve também assegurar-se de que o delegado que terminou a tarefa é devidamente recompensado. Mostre que está consciente dos objectivos conseguidos e do esforço despendido pelo delegado, elogiando-o pessoalmente ou por carta.

CONSELHOS ÚTEIS

-          Use a delegação para seu benefício, do seu pessoal e da sua organização.

-          Use a delegação de tarefas como um meio eficaz de formação do seu pessoal.

-          Certifique-se de que confere às pessoas autoridade suficiente.

-          Dedique tempo e esforço suficientes ao plano e estrutura organizacionais.

-          Faça uma avaliação cuidadosa das capacidades, qualidades e pontos fracos de cada delegado.

-          Assegure-se de que fornece apoio e assistência suficientes a cada delegado.

-          Deixe claro aos delegados quais são as áreas pelas quais eles são responsáveis.

-          Assegure-se de que o delegado compreende as instruções e concorda com elas.

-          Peça ideias novas quando o seu delegado o informar sobre a evolução da tarefa.

CONCLUSÕES

Pretendeu-se com este texto elucidar os gestores acerca do processo de delegação de tarefas, visando ajudá-los a aplicar esta técnica essencial de gestão. Descreveram-se os principais pontos a ter em conta para delegar com eficiência e explicitaram-se alguns conselhos que poderão vir a ser úteis. O gestor tem então presente um guia de consulta rápida para o ajudar no seu dia a dia.

REFERÊNCIA

1. Heller, R. Como delegar responsabilidades, Civilização, 1999.

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