Paperless Office
por
Ana Luísa Neves
Abril/97
Graças às novas tecnologias, é já possível digitalizar documentos,
impressos ou mesmo manuscritos, transportá-los para vulgares editores de
texto e editá-los. É também possível, duas ou mais pessoas visualizarem
simultaneamente nos seus écrans o mesmo documento, editando-o à medida que
o discutem. Tudo isto, vem abrir as portas e dar força a todos aqueles que
acreditam que o paperless office é o futuro cenário das empresas em
todo o mundo.
O paperless office é, como o próprio nome indica, um escritório sem
papéis, isto é, um escritório em que os documentos existentes sob a forma
de papel, se vêem substituir por equivalentes guardados em dispositivos de
memória auxiliar (disketes, tapes, fitas magnéticas, etc.). Neste ambiente,
a informação passaria a estar disponível para todos, bastando recorrer aos
ditos suportes ou, no caso de estes não se encontrarem no local em que são
necessários, pedindo a sua transferência através da rede informática
internacional (Internet) ou, em alternativa, através de uma Intranet. As
Intranets, convém aqui referir, assumem neste contexto um papel de grande
relevo pela rapidez e segurança que conseguem oferecer na transferência de
dados.
São muitos os defensores do paperless office, apresentando, estes,
extensas listas de vantagens que, na realidade, lhe podem ser atribuídas.
No entanto, existem também algumas desvantagens que, por ainda não terem
sido ultrapassadas, não permitem que esta seja já a nossa realidade.
De entre as vantagens apontadas destacam-se:
- poupança de espaço - dado que as toneladas de papel armazenadas por
cada grande empresa podem ser substituídas por disketes, o espaço ocupado
no armazenamento de documentação diminui;
- diminuição de custos - se o espaço ocupado diminui, também a dimensão
dos escritórios pode diminuir, o que implica uma dimimuição dos custos de
aluguer ou aquisição de espaço;
- rapidez e facilidade de procura - não será dificil perceber que, se
existirem menos papéis, será muito mais fácil encontrar aqueles que
existem. Além disso, todos os documentos que estiverem guardados em
memória (informática, claro está!) estarão apenas à distância de uma
palavra, já que o software existente para procura de documentos
por ideia ou palavra, já existe sendo mesmo bastante rápido e eficaz;
- trabalho paralelo - a existência de um documento escrito implica,
para que a sua análise seja feita por mais do que uma pessoa em
simultâneo, uma cópia. Essa cópia, vem aumentar o número de papéis
existentes, estando, por isso, a contrariar a ideia que está na base da
criação dos paperless offices. Além disso, todas as pessoas podem
estar na posse de uma cópia do documento original, mas será sempre
difícil editá-lo conjuntamente, já que as alterações numa cópia não são
visíveis em nenhuma das outras. Assim, e porque a ligação de diversos
terminais em rede e o software já criado permitem que vários
utilizadores vejam e editem o mesmo documento ao mesmo tempo, é possível
registar grandes benefícios. Primeiro, não é necessária a criação de
diversas cópias escritas; segundo, e porque a edição é visualizada por
todos, a sua discussão é também mais rápida originando um trabalho de
maior qualidade e rapidez;
- aproveitamento das capacidades individuais - quando alguém se
candidata a um emprego, de certo o seu sonho não será passar o dia
procurando documentos antigos de forma a desempenhar o papel que lhe está
destinado. Na realidade, o facto de isto não corresponder às suas
expectativas, acaba por conduzir, mais cedo ou mais tarde, à saturação e,
consequentemente, ao aparecimento de stress. Contudo, e pior do
que tudo isto, é o facto de se estar a desperdiçar a capacidade, a
imaginação e a qualidade de pessoas que, pelo facto de perderem 25% do
seu horário de trabalho a procurar documentação (segundo estatísticas
divulgadas), não podem desempenhar a sua função por falta de tempo e por
falta de disposição;
- menos empregados necessários - já que a documentação vai deixar de
existir em tão grande quantidade, vão também deixar de ser necessários
todos os empregados que se encarregavam exclusivamente da gestão de
documentos. Isso vai trazer alguma redução nas despesas salariais das
empresas que ponham em prática o paperless office ou, então, o
encaminhamento destas pessoas para outro tipo de tarefas que tenham, até
aí, sido prejudicadas por falta de pessoal;
- melhorias ambientais - numa altura em que o planeta revela grandes
preocupações ambientais, a necessidade de menos quantidade de papel traz
grandes alegrias aos ecologistas já que, também menores quantidades de
madeira serão precisas para a sua produção. Além disso, todos os
documentos arquivados em formato de papel, podem ser reciclados depois de terem sido
passados para suporte informático.
No outro prato da balança, pesam, entre outros, estes problemas:
- facilidade de leitura - uma das barreiras mais dificeis de
ultrapassar e a que pareceria mais fácil, é o facto de todas as pessoas
estarem mais habituadas à leitura de documentos escritos em papel e de
terem grande dificuldade em se habituarem à leitura destes num écran. Na
realidade, para já, o papel continua a ser visto como muito mais
user-friendly do que qualquer outra forma disponível;
- elevados custos de implantação - de forma a que seja possível pôr em
prática este ambiente de trabalho, é necessário investir fortemente de
início de forma a adquirir todo o equipamento indispensável: ligação em
rede de todos os terminais, scanners, software de digitalização,
etc.. Embora, tudo isto possa trazer grandes ganhos posteriores, custa um
pouco para a maior parte das empresas avançar com tão grande investimento
principalmente quando é tão dificil prever os ganhos de algo tão subjectivo
como a eficiência e uma melhor satisfação dos clientes. Além disto tudo, é
ainda preciso não esquecer os custo associados com as horas extra que
seria necessário gastar digitalizando toda a informação e documentação já
armazenada fisicamente;
- elevados custos de manutenção - porque, depois de se ter adoptado o
paperless office, tudo estará dependente dos equipamentos
informáticos existentes, é necessário cuidados especiais com a manutenção,
é necessário elevados custos adicionais para pagar a técnicos
especializados e para adquirir o equipamento e software necessários
e sempre insuficientes para que tudo funcione na perfeição, não deixando
a perder os custos iniciais;
- desemprego - se tentarmos adivinhar o futuro, acreditando seriamente
que este cenário é possível, vemos que a quantidade de papel produzida
vai diminuir pois a sua procura vai diminuir também. Assim, muitas das
pessoas que trabalhavam na indústria do papel, vão perder os seus
empregos. Além disso, e num futuro mais próximo, podemos assistir à
dispensa de muitas das pessoas que eram necessárias num escritório mas
que deixam de o ser a partir do momento em que o trabalho se passa a
desenrolar mais depressa, não sendo necessárias tantas pessoas para
realizar o mesmo trabalho que até aqui;
- falta de segurança na rede - dado que muita desta informação passará
a ser partilhada por várias pessoas em vários pontos do globo, existe o
grande perigo de a ligação poder ser violada ficando, desta forma, toda a
informação ao dispôr de quem dela quiser usufruir;
- validade legal - este é um problema muitas vezes esquecido mas que
levanta o maior obstáculo à efectiva mudança para este tipo de ambiente:
os documentos apenas têm validade legal se estiverem em suporte de papel.
Este facto é, na realidade, bastante compreensível pois existe já bastante
software capaz de apagar ou alterar o conteúdo de um qualquer
documento sem que isso seja, depois, perceptível. Isso cria, obviamente,
uma grande suspeição relativamente a todos os documentos que sejam
apresentados em suporte informático.
Por tudo isto, e para que se possa efectivamente sonhar com o paperless
office, é necessário começar por ultrapassar o obstáculo da validade
legal antes de tudo o resto. É necessário que se encontrem formas de dar
validade a esta informação e, isto, muito provavelmente, passará pela
criação de eficazes métodos de segurança (passwords, códigos,
encriptação, selos, etc.). Também poderosos métodos terão de ser
encontrados para que toda a informação possa ser transferida sem o perigo
de ser acedida por quem não de direito. É também pelo facto da transmissão
de dados pela rede que será necessário aumentar a largura de banda a nível
mundial, pois, desta forma, e se isto passar mesmo a ser uma realidade, as
exigências serão cada vez maiores e a largura de banda disponível neste
momento não vai ser suficiente para passar a informação desejada no tempo
pretendido, muito menos quando se fala de informação em forma de imagens,
gráficos e todos esses tipos tão pesados de formatação. A compatibilidade
tem também de ser tida em consideração quando se pensa que um ficheiro
produzido aqui, pode ter de vir a ser lido numa qualquer outra máquina ou
num qualquer outro programa diferente do usado na sua criação.
Um outro problema que surge deste novo tipo de ambiente, é o facto de a
informação ficar armazenada em suportes de memória secundária. Claro está
que isto é a ideia base, mas tanta informação iria implicar quantidades
imensas de disketes, CD’s e afins. Por isso, é também necessário que se
estudem poderosas técnicas de compressão para que tudo possa ficar
armazenado na menor quantidade de espaço possível.
É por tudo isto, mas principalmente porque a balança continua inclinada
para o lado das desvantagens, que o paperless office continua a ser
apenas um sonho. Na minha opinião a balança ficará muito mais equilibrada
quando o problema da validade legal dos documentos estiver ultrapassada.
Até lá, julgo que nada do que se possa fazer será suficiente, podendo mesmo
ser uma perda de tempo, pois se a documentação tem de estar em suporte de
papel vai acabar por existir duplicação de informação. Contudo, e depois de
termos ultrapassado este problema, teremos o caminho aberto para este
cenário alternativo, em que a informação passará, na realidade, a
constituir o principal trunfo empresarial e em que cada colaborador poderá
utilizar e pôr em prática as suas ideias e as suas reais capacidades.
Referências:
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New Office Look - Paperless Offices and Home Offices
(antigamente em http://logic.csc.cuhk.edu.hk/~s957171/paperless.html)
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Paperless office still a goal, but reality remains elusive - by Erik
Sherman (antigamente em http://www.macweek.com/mw_1024/sol_paperless.html)
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The Paperless Law Office - by Karen Brady
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