Bruno Lucas Rino
Departamento de Engenharia Informática
Universidade de Coimbra
Portugal
Introdução
1. Factores que influenciam o clima a nível global
2. O efeito de estufa
2.1 Como se processa
2.2 Porque é essencial à vida
2.3 Gases de Estufa e a actividade humana
3. A alteração do clima impõe-se
4. Medidas a tomar
4.1 Preventivas
4.2 Mitigantes
4.3 Adaptação
Conclusão
Referências
O Sol não bilha duma maneira constante. Variações na emissão de energia do Sol já ocorreram no passado, e tiveram efeitos visíveis: a "Pequena Idade do Gelo". Esta alteração climatérica verificou-se entre 1430 e 1850, e não foi um período glaciar; a temperatura caiu apenas 1--2°C. No entanto, esta pequena variação na temperatura foi acompanhada por Invernos rigorosos e tempestades violentas.
Oscilações da Terra em redor do seu eixo, chamados ciclos de Milankovich, provocam variações na órbita terrestre em redor do Sol, que por sua vez alteram a distância entre o Sol e a Terra, são as principais causadoras das eras glaciares. A última era glaciar acabou há cerca de 18 000 anos, e a temperatura global aumentou 6-10°C até este período interglaciar que estamos a viver. E nessa última era glaciar, certas regiões nas latitude altas do hemisfério norte estiveram cobertas com camadas de gelo que podiam atingir 2000 metros de espessura!
Uma vez na Terra, a forma como a energia recebida é devolvida também influencia o clima: se a energia é reflectida, ainda sobre a forma de luz, vai para o espaço; se, no entanto, esta for absorvida e mais tarde irradiada sob a forma de calor, pode voltar ao solo por intermédio do efeito de estufa. Por exemplo, quanto maior for a área de gelo maior a energia luminosa que é reflectida (o gelo é o melhor 'reflector' natural conhecido). Deste modo, as eras glaciares acabam por tornar-se ainda mais frias do que seria de esperar apenas pelos ciclos de Milankovich.
A quantidade de poeiras no ar, determinado pela actividade vulcânica, têm um efeito de arrefecimento, ao não deixar passar raios solares. A quantidade de poeiras no passado pode ser quantizada pelo gelo que envolve bolhas de ar 'presas' no gelo.
O mar acumula o calor que é enviado pelo Sol. As correntes marítimas podem transportar essa energia a grandes distâncias; a alteração da sua direcção e velocidade provoca modificações importantes no clima. O El Niño é disso exemplo: normalmente as correntes do Pacífico arrastam águas de superfície aquecidas pelo Sol para o norte da Austrália; sobre estas águas quentes formam-se nuvens altas de tipo cúmulo, provocando as chuvas as estação húmida do Verão; as águas mais frias, ricas em nutrientes, sobem à superfície ao largo da América do Sul, alimentando enormes cardumes de anchovas. Cada 3-5 anos, em ano de El Niño, os ventos alísios abrandam e as águas quentes ficam na costa da América do Sul. Para a Austrália representa um ano de seca e fogos florestais, para a Bolívia e Peru inundações, e para a indústria pesqueira fome.
Um fenómeno mais abrangente que se pensa verificar-se por todo o lado (verifica-se, pelo menos, no inverno no mar da Groenlândia), consiste na 'correia transportadora', descrita há vários anos por Henry Stommel. Este fenómeno consiste na circulação tridimensional do oceano, e não tem só em conta as transferências horizontais descritas acima. As transferências verticais, entre a superfície e as profundezas do oceano, 'renovam' as águas, levando a água da superfície, rica em dióxido de carbono, para o fundo, aumentando assim a capacidade de absorção de dióxido de carbono do mar.
As variações na composição da atmosfera são influentes quando se fala dos gases de estufa.
O seu efeito na alteração do clima vai ser tratado com mais detalhe a seguir, mas a maioria dos cientistas estão convictos que a concentração dos gases de estufa é determinante, até porque nos últimos 160 000 anos, as variações da temperatura e dos gases de estufa têm tido uma estreita relação. A concentração dos gases de estufa podem ser medidas através da análise da bolhas de ar presas no gelo.
Estes dados foram obtidos através da análise de gelo no Antárctico. Os diferentes isótopos da água gelam a diferentes temperaturas e rapidez, pelo que a composição do gelo depende da temperatura a que foi formado. É claro que a temperatura do Antárctico não é a do planeta, mas parece que as suas temperaturas variam em simultâneo.
Os efeitos de muitos desses factores são difíceis de quantizar. A análise do gelo antárctico não inclui factores importantes como as correntes marítimas, vapor de água, nuvens e neve, o que representa uma falha
Mas mais importante, que isso, é que este ponto de vista é muito simplista: supõe que para uma certa configuração dos factores que afectam o clima existe só um equilíbrio (supõe, portanto, que o passado não influi), e também que os factores que afectam o clima estão bem definidos.
No entanto, quanto a alterações na temperatura global do planeta, a combinação dos vários factores parece suportar a teoria do aquecimento.
Os gases de estufa serão o telhado da estufa: O Sol emite os seus raios, que são em parte reflectidos (nas camadas mais altas da atmosfera) e absorvidos (em camadas mais interiores). Mas uma boa parte atravessa a atmosfera ilesa e aquece a superfície terrestre (excepto uma pequena parte que é reflectida quando chega ao solo). Mas a Terra não aquece infinitamente: a energia que absorve acaba por ser irradiada desta vez sob a forma de calor e não luz (tal como um aquecedor que ao receber energia eléctrica aquece, e acaba por irradiar a energia sob a forma de calor).
Vénus está tão próxima do Sol que não é possível a formação de rios. A água está evaporada e o planeta é como uma sauna gigante, com uma atmosfera pesada.
Se o efeito de estufa não se produzisse, a temperatura média da Terra seria de apenas de -18°C (menos 33°C que actualmente)... E é por isso que devemos a nossa vida (em parte) ao efeito de estufa.
Uma vez chegada à tropopausa (camada da atmosfera onde residem os gases de estufa), quase todo o calor é irradiado de volta, aquecendo de novo a superfície do planeta, sendo a temperatura exterior inferior à interior. Tal como sucede numa estufa!
O 'truque' reside aqui: a energia, no seu caminho do Sol para a Terra, viaja sob a forma de luz, que tem um baixo comprimento de onda; quando tenta sair da Terra para o espaço, a energia viaja como calor, que tem um grande comprimento de onda (infravermelho). Ora, o que caracteriza os gases de estufa é a sua transparência às altas frequências e opacidade às baixas frequências!
2.2 Porque é essencial à vida
Grande parte da energia que a Terra recebe do Sol é simplesmente irradiada de novo para o espaço, e dependemos disso para manter o planeta fresco - senão, a superfície da Terra aqueceria desmesuradamente como a de Vénus, que tem demasiados gases de estufa, e não seria possível vida.
No entanto, o efeito de estufa mantém alguma da energia recebida, e dependemos disso para manter o planeta quente - senão, a superfície da Terra seria tão fria como a de Marte, que quase não tem atmosfera, e não seria possível vida.
Marte está demasiada afasta do Sol, o que também não permite a formação de rios; além disso, Marte não 'sofre' da deriva dos continentes, como a Terra, o que faz com partículas da atmosfera, uma vez presas na crosta, não possam ser libertadas como na Terra, através de erupções vulcânicas. Assim, a atmosfera de Marte é muito fina, e toda a água fica gelada no subsolo.
gás de estufa (GHG) |
contribuição para o efeito de estufa |
tempo de vida na atmosfera |
crescimento anual |
aumento nos últimos 100 anos |
vapor de água [ H2O] |
||||
dióxido de carbono [ CO2] |
60 % |
50-200 anos |
0.5 % |
25 % |
metano [ CH4] |
15 % |
10 anos |
0.9 % |
100 % |
clorofluorcarbonetos (CFCs) |
12 % |
60-100 anos |
4 % |
|
óxido de azoto [ N2O] |
5 % |
150 anos |
0.3 % |
|
ozono (de baixa altitude) [ O3] |
8 % |
semanas |
0.5-2.0 % |
Prevê-se que, em meados do século XXI, na ausência de contramedidas, o óxido de azoto aumente 50%, o metano aumente +100% e a concentração de dióxido de carbono tem vindo a aumentar regularmente no último século:
- a queima de combustíveis fósseis liberta mais de 40 000 ton. de CO2/min;
- a desflorestação dos trópicos liberta o carbono armazenado nas árvores: 700 ton./hectare;
- o Brasil e a Colômbia já destruíram cerca de 14% da bacia amazónica.
- durante os últimos 100 000 anos a concentração de dióxido de carbono foi de 180-280 partes/milhão. Actualmente situa-se nas 350ppm e em 2030 pode atingir 560ppm. Tal concentração poderá aquecer o planeta 2 a 5°C.
4.1 Preventivas - Evitar a emissão dos gases de estufa
A primeira medida preventiva - a mais óbvia - é conseguir acordo internacional sobre a emissão de gases de estufa, tal como se conseguiu em 1989, no Protocolo de Montreal, para a eliminar o uso de CFCs. No entanto, reduzir a emissão de dióxido de carbono, o principal gás de estufa, implicará mudanças na produção e diminuição do consumo de energia. E devido ao seu papel vital na economia das nações, torna-se difícil convencer os países a diminuir o consumo.
Por outro lado, temos uma estratégia que até convém às economias nacionais, e por isso mais promissora: conseguir uma maior eficiência na produção e consumo de energia (por exemplo, substituir uma lâmpada incandescente de 75W por uma fluorescente de 18W poupa a emissão de 100 Kg de dióxido de carbono no tempo de vida da nova lâmpada, com a mesma capacidade de iluminação) e criar formas alternativas de produção de energia, que embora já existam, não são na maior parte rentáveis. A juntar a isto, interesses económicos de grupos multinacionais poderosos (produtores de energia) atrasam indefinidamente a criação de processos eficientes de consumo e de formas alternativas de energia.
Evitar o uso do carvão: dos três principais combustíveis fósseis, este é o mais prejudicial (produz mais 80% de dióxido de carbono que o gás natural e mais 25% que o petróleo).
4.2 Mitigantes - Compensar as emissões de gases que ocorram
A medida mais forte que ocorre nesta área é a reflorestação. Nos Estados Unidos, uma companhia produtora de energia construiu uma central térmica a carvão, e para compensar as suas emissões de dióxido de carbono, criou um plano para plantar 52 milhões de árvores de crescimento rápido (na Guatemala).
No entanto, do ponto de vista económico seria mais económico e do ponto de vista ecológico seria melhor diminuir a desflorestação.
4.3 Adaptação - Assumir que não se pode a mudança é inevitável e acartar as consequências
Posição típica de quem tem a perder (economicamente) com as outras medidas. Os políticos são normalmente cépticos, afirmando que não devem ser tomadas medidas antes de existir muito mais pesquisa que suporte a teoria do aquecimento global e das alterações climatéricas; deste modo, não são obrigados a fazer nada.
As medidas a tomar dependem das mudanças que efectivamente ocorram:
Criar enormes diques para proteger as terras da inundação consequente da subida do nível do mar.
Através da manipulação genética criar novas plantas que aguentem temperaturas superiores e condições climatéricas adversas.
Criar novas reservas de protecção animal, onde o clima passe a ser semelhante ao habitat natural das espécies.
Conclusão
A alteração do clima está aí. Ainda há quem não acredite, mas ou têm motivos escondidos ou então são uma minoria pouco significante.
Fomos nós que a provocámos: mais uma conclusão controversa, mas cada vez com mais adeptos.
O efeito de estufa não é a única alteração, nem talvez a mais importante. Porque não somos omniscientes mas sabemos que a teia de transferência energética é complexa, demasiado complexa para a percebermos por enquanto.
Temos de agir! Se quisermos que este não seja 'o fim do mundo tal como o conhecemos'!
Referências