O Ambiente do próximo milénio:
aquecimento global e seus impactos.

por :
Luis Miguel Carvalho Neves
Departamento de Engenharia Informática
Universidade de Coimbra
3030 Coimbra, Portugal

 
Resumo

O homem tem vindo a lançar indiscriminadamente gases para a atmosfera, que quebraram o equilibrio natural dos gases de efeito de estufa, o que causou uma alteração do clima, que já se tem vindo a fazer sentir, através do aumento da temperatura. Apresentam-se sumáriamente, algumas dessas alterações mais evidentes e uma pequena projecção do que poderá acontecer, caso não se tomem medidas urgentemente.

Introdução

A velocidade com que o homem vai alterando o clima depende da quantidade de gases de efeito de estufa lançados para a atmosfera. Se continuarmos como temos vindo a fazer, as emissões desses gases continuarão a aumentar, e, com isso, o clima mudará: a temperatura subirá cada vez mais. Os impactos serão então enormes: o nível dos oceanos subirá, as colheitas sofrerão alterações e as florestas, saúde humana e certas espécies poderão ser ameaçadas, assim como muitos tipos de ecossistemas De acordo com várias entidades creditadas nos assunto (que o leitor poderá consultar), como sejam a NASA ou o painel internacional sobre mudança do clima (IPCC) é necessária uma mudança de atitude, com vista a evitar sérias mudanças ambientais.

Aquecimento global e seus impactos

O êxito notável que nós, humanos, obtivémos como espécie pode-nos estar a conduzir a um beco sem saída. Os produtos provenientes dos nossos cérebros desenvolvidos - indústrias, transportes e outras actividades - que tiveram início no fim do século XVIII, estão a contribuir para uma situação sem precedentes, desde o ínicio da civilização humana.

Nós mudámos, e continuamos a mudar, o equilibrio dos gases que formam a atmosfera. A partir da era industrial, como resultado da intensificação do uso de combustíveis fósseis, o homem começou a produzir e a lançar na atmosfera quantidades cada vez maiores de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), denominados de gases de efeito estufa.

Estes gases encontram-se normalmente na atmosfera, representando menos de 0,1% da sua constituição. Mas, mesmo sendo uma parte tão pequena da composição da atmosfera, eles são responsáveis por manter a temperatura média da superficie da terra (em cerca de 20ºC). Eles são essenciais, pois actuam como um "cobertor" que cobre a terra - sem o qual a superfície terrestre seria cerca de 34ºC mais fria, o que impossibilitaria a existência de muitas formas de vida no planeta (pelo menos como as conhecemos hoje).

O problema é que o equilíbrio natural desses gases - criado através da realização da fotossintese e da fixação do carbono nas plantas - foi quebrado pelo homem devido às emissões adicionais desse tipo de gases (na indústria, motores dos automóveis,...) e às queimadas das florestas, para expansão dos terrenos de cultivo.

Deste modo, esse "cobertor" que cobre a terra está a ficar cada vez maior, assim como a sua capacidade de reter o calor, contribuindo para que a temperatura do planeta aumente.

Desde a era pré-industrial - por volta de 1750 -, até aos dias de hoje, a concentração de CO2 já aumentou cerca de 30%, a concentração de metano quase duplicou e a concentração de óxido nitroso aumentou cerca de 15%. Quanto à temperatura média da superficie do globo, verificou-se um aumento situado entre os 0,3 e os 0,6ºC , verificando-se que a ocorrência dos 9 anos mais quentes do século teve lugar nos 14 últimos anos.

Estimativas para o futuro quanto à emissão dos gases de efeito estufa revelam-se impossíveis, visto dependerem de muitos factores, como o desenvolvimento económico, tecnológico e industrial. No entanto, segundo estudos elaborados pelo painel internacional sobre mudança do clima - IPCC, prevê-se que as concentrações desses gases aumentem durante todo o próximo século, podendo os níveis de CO2 chegar mesmo a duplicar até ao ano 2100. De acordo com um "consenso" cientifico geral, se tal acontecer, é provável que a temperatura sofra um aumento de 1 a 3.5ºC durante os próximos 100 anos e que o nível do mar sofra uma elevação de 15 a 90cm, como consequência do derretimento dos glaciares e da expansão térmica dos oceanos.

Os efeitos que tais alterações teriam sobre cada um de nós são dificeis de prever, mas, para já, estima-se que a saúde humana, os sistemas ecológicos terrestres, bem como os aquáticos e os sistemas sócio-económicos (como a agricultura, pesca, recursos hídricos,...), sendo sensíveis ao ritmo da mudança do clima, sofrerão efeitos adversos - alguns dos quais potencialmente irreversíveis.

Infelizmente, muitos dos impactos potencialmente mais significativos, dependem do facto de a queda de chuva tender a aumentar ou diminuir, o que depende de zona para zona, pelo que não podem ser feitas projecções sobre possíveis impactos em zonas concretas.

Dos possíveis impactos, que se poderão vir a registar, destacam-se os seguintes, uma vez que são os mais significativos:

  • Saúde

  • Por todo o mundo, a prevalência de certas doenças e outras ameaças à saúde humana dependem em larga escala do clima. As temperaturas elevadas aumentam a poluição do ar e da água, o que por sua vez também constitui ameaça para a saúde. Temperaturas elevadas aumentam o número da mortalidade por dia, por inúmeras razões, dentre as quais se destaca o facto de as pessoas com problemas cardiovasculares ficarem mais vulneráveis, pois o corpo terá de trabalhar mais para se manter fresco. O aumento da temperatura também aumenta a concentração de ozono no chão, o que pode causar problemas a pessoas com problemas respiratórios, tais como a asma. Finalmente, outro dos problemas das temperaturas elevadas, é o aumento do risco de contrair doenças infecciosas, tais como a cólera - uma vez que estas tendem a aparecer apenas em zonas quentes.

  • Qualidade/Quantidade de Àgua

  • Com o aumento da temperatura, aumenta a evaporação e, por conseguinte, aumenta a precipitação. Nas áreas onde a evaporação aumentar mais que a precipitação, os solos tornar-se-ão mais secos, o nível dos lagos, bem como o caudal dos rios baixarão. Consequentemente, baixarão as fontes de fornecimento de àgua para a agricultura, para o uso doméstico e uso industrial. Outra consequência que daí advirá será uma quebra, ou mesmo impossibilidade na geração de energia eléctrica, uma vez que a geração de energia eléctrica depende do caudal dos rios. A qualidade da àgua também terá tendência a baixar, visto que, com menos àgua, os poluentes têm tendencia a concentrar-se.

  • Zonas Costeiras

  • O nível do mar tem vindo a subir e provavelmente assim continuará, mesmo que a temperatura páre de subir. O aumento do nível do mar leva a que as zonas baixas sejam inundadas, provoca desgaste nas praias (pela acção da erosão), intensifica as cheias e aumenta a salinidade dos rios, baías e das águas subterrâneas. Das zonas mais vulneráveis ao aumento do nível do mar destacam-se as zonas costeiras e os pântanos. Um dos efeitos concretos que poderá vir a verificar-se é a submersão das zonas costeiras e de algumas ilhas. Devido às mudanças climáticas, prevê-se que fenómenos como os furacões sejam cada vez mais frequentes, assim como as chuvadas.

  • Florestas

  • O aumento da temperatura, se for gradual, pode permitir às espécies vegetais migrar para o norte - para zonas que presentemente são geladas - práticamente à mesma razão com que as zonas do sul se vão tornando quentes e secas demais para que essas espécies se desenvolvam. Mas essa migração pode ser, de certo modo, "barrada" por solos pobres, tendo como resultado, que certas florestas comecem a ter cada vez menos biodiversidade de espécies. Por outro lado, a enorme quantidade de CO2 existente no ar, tem um efeito fertilizante benéfico nas plantas, e também lhes permite usar a àgua mais eficientemente - o que lhes pode permitir resistir em zonas mais secas e inóspitas. Outro factor adverso, é o facto de, com as temperaturas elevadas, aumentar também a tendência para a ocorrência de incêndios que deflagram as florestas. Um impacto muito significativo será também o facto de certas reservas não poderem mais estar localizadas em certos locais, assim como a fauna que nelas habitam, devido à migração das plantas para locais mais adequados.

  • Agricultura

  • O facto de uma cultura ser bem ou mal sucedida sempre dependeu do clima, sendo o factor mais importante a existência de um solo suficientemente húmido durante o periodo de crescimento da colheita. Alguns factores que poderão pôr a agricultura em risco em certas zonas são a ocorrência mais frequente de cheias, a salinização dos solos, ... entre outros. Contudo, a mudança do clima poderá trazer também alguns beneficios à agricultura, como sejam o facto de nas zonas mais frias, as temperaturas mais elevadas virem a alargar a época para o crescimento das colheitas. Além do mais, as grandes quantidades de CO2 tendo um efeito de fertilizante nas plantas, permitem que estas se desenvolvam mais rápidamente. À medida que a temperatura aumenta, os agricultores terão de mudar para culturas apropriadas, normalmente encontradas em zonas mais a sul. Porém, esta adaptação ao clima poderá vir a trazer outros problemas: ao começar a cultivar áreas que hoje se encontram geladas, o homem poderá afectar o ambiente, pois pode estar a eliminar ecossistemas existentes nessas mesmas zonas.

  • Espécies animais

  • A mudança do clima trará certamente repercussões que podem afectar directa e indirectamente as espécies animais. O aumento da temperatura afecta directamente o seu ciclo de vida: A perda de zonas verdes, praias e outros habitats poderá também afectá-los indirectamente, ao tornar certas zonas inóspitas para o seu desenvolvimento. As aves, por exemplo, terão tendência a deixar de voar tão para sul durante o inverno. Poderá, também ser afectado o seu comportamento em relação às estações do ano, começando/acabando as migrações 3 ou 4 semanas antes. Com o aumento da temperatura, a maior parte das espécies começa também o período de acasalamento mais cedo, uma vez que como as plantas também florescem mais cedo, é possivel que a existência dos insectos ou outras espécies de que se alimentam aconteça também mais cedo. Mas enquanto que as espécies animais se podem adaptar à mudança da temperatura migrando para zonas mais a norte, o mesmo pode não acontecer com as plantas de que dependem para se alimentar - que podem levar anos, ou mesmo décadas para se adaptarem à mudança. A perda das praias traz também muitos problemas, pois não só se perde o habitat de muitas espécies, como também diminuem as zonas de alimentação de muitas outras espécies, que dependem das marés para encontrarem o seu sustento.

  • Desertos

  • Neste assunto, pouca investigação foi dispendida. Os cientistas focaram os seu esfoços numa outra questão: Os desertos estão em vias de expansão, ou não? Cientistas da NASA defendem que a longo prazo, uma expansão global dos desertos é muito provável. Se a temperatura global continuar a aumentar, a evaporação potencial aumentará cada vez mais, ao passo que a precipitação tenderá em diminuir, pelo que as secas se tornarão cada vez mais frequentes. Como consequência, algumas zonas de desertos expandir-se-ão, mas tudo isso é apenas hipotético, visto ser impossível prever com relativa precisão que locais serão alvo de aumento/diminuição da precipitação como resultado da mudança do clima.

Está provado que as acções do homem sobre o ambiente alteram o clima, provocando um desiquilibrio na natureza, que antes não existia. É, portanto, necessário mudar de atitude quanto à forma como tratamos o ambiente... ...antes que seja tarde demais.

Conclusão

Os pontos focados neste artigo não pretendem ser - nem o são - uma abordagem exaustiva do tema abordado, sendo objectivo único do autor fornecer um meio de sensibilização aos leitores, para os efeitos que a poluição tem no clima e possíveis impactos que daí advêm.

Foram focados efeitos concretos que existem nos dias de hoje, como consequência de cções levadas a cabo no passado, nomeadamente desde a revolução industrial.

Como complemento a essa abordagem, foram ainda apresentados alguns dos principais problemas que poderão surgir como consequência da mudança climatérica.

Pensa-se que o presente artigo constituirá uma forma útil de fazer uma chamada de atenção a todas as pessoas que, de certo modo, não têm consciência dos impactos que as acções que levam a cabo terão num futuro próximo.

Não contém, contudo, informações muito detalhadas ou específicas, como sejam números estatísticos mais precisos, ou referências a locais ou zonas específicas. Para tal, o leitor deverá procurar informação em locais especializados, como os que são abaixo citados.

Agradecimentos

Este artigo foi escrito no âmbito da cadeira de Comunicação Técnica Profissional, a cujos professores, António Dias de Figueiredo e João Paulo Pereira, o autor agradece por toda a ajuda dispendida.

Referências

Links para páginas onde o leitor poderá encontrar informação mais detalhada sobre o tema aqui abordado:

http://zebu.uoregon.edu/1996/ph162/l19.html http://www.ncdc.noaa.gov/ol/climate/globalwarming.html http://www.covis.nwu.edu/Geosciences/projects/GLOBAL_WARMING/overview.html www.bisa.asn.au/globwarm.html http://www.erols.com/dhoyt1/annex5.htm http://www.globalwarmingconcern.com/form.html http://www.ozone.org/impacts.html http://www.mri-jma.go.jp/Proj/goin/GOIN.html